O
WMF (Workshop de Métodos Formais) é um evento anual
promovido pela Sociedade Brasileira de Computação
(SBC) e destina-se à apresentação e discussão
de trabalhos na área de métodos formais. Trata-se
do principal fórum de discussão em nível nacional.
A VI edição deste evento ocorreu aqui em Campina nos
dias 12, 13 e 14 de outubro, realizado pela Universidade Federal
de Campina Grande em parceria com a Universidade de Kent, na Inglaterra.
O evento foi coordenado pela professora Patrícia Machado,
do Departamento de Sistemas e Computação da UFCG.
Fizemos uma entrevista com ela para podermos saber um pouco mais
sobre como foi este evento.
PETNews: O WMF atingiu as expectativas? O evento
saiu como vocês estavam planejando?
Patrícia:
Sim, com certeza. O evento foi recorde em todos os pontos. Foi recorde
de submissão de arquivos e foi recorde também de participação.
Nós tivemos uma boa participação de alunos,
professores de vários estados do Nordeste e inclusive do
Sul também. Tivemos até participações
internacionais. Para o tamanho do evento, que é um evento
bem acadêmico, bem fechado, ele realmente foi um sucesso em
termos de público.
PETNews:
Em relação aos alunos, a participação
foi boa, se inscreveram a quantidade de alunos que vocês esperavam?
Patrícia:
Como no evento a maioria das palestras eram em inglês, alguns
alunos não quiseram se inscrever por causa disso. A gente
também teve a dificuldade de coincidir o WMF com uma semana
extremamente crítica do semestre aqui, então várias
pessoas comentaram comigo que não haviam se inscrito por
isso, não só daqui, mas principalmente de João
Pessoa, porque aqui ainda foi a semana antes da semana final e lá
foi exatamente a semana final. Mas, mesmo assim, acho que houve
uma boa participação, como eu falei anteriormente
os números foram recordes de todos os WMF’s já
realizados, inclusive em regiões mais desenvolvidas que a
nossa. Então, de certa forma, isto criou uma imagem bastante
positiva. Poderia ter sido melhor, com certeza poderia, até
nós tínhamos a esperança, não a esperança,
quer dizer, os números foram exatamente o que eu esperava
ou além do que eu esperava, mas talvez tivesse sido maior
e isso poderia ter sido bom para atrair eventos para Campina Grande.
Mas, no final das contas, foi o que a gente esperava, foi um resultado
bom.
PETNews:
Qual foi o lado bom e o lado ruim de se organizar um evento com
uma universidade internacional?
Patrícia:
A experiência obviamente é bem interessante. Eu não
vejo nenhum ponto negativo na realidade, eu acho que talvez porque
as pessoas que participaram desse evento são pessoas com
quem eu trabalho já há anos, então apesar de
eles serem de outra universidade eu tenho uma relação
muito grande com eles.
PETNews:
Eu achei que talvez a distância...
Patrícia:
A distância dificulta um pouco, mas hoje em dia tem ICQ, Internet
e ligação telefônica da Europa para cá
é baratíssima, então eles ligavam e a gente
acabava falando muitas vezes pelo telefone. Mas tirando a barreira
da distância eu acho que foi uma experiência bem interessante.
PETNews:
Qual a grande importância que você considera desse evento
para a comunidade científica local?
Patrícia:
Métodos Formais é uma área que está
na base de todas as outras, que envolve Engenharia de Software,
Redes de Computadores, Inteligência Artificial, Banco de Dados.
É uma área fundamental, qualquer notação
que você utilize no seu trabalho, seja UML, seja até
JAVA, quando você está programando em JAVA, quando
você está fazendo qualquer coisa de Computação
você está utilizando Métodos Formais. Então
é uma área fundamental que traz conhecimentos gerais
que podem lhe capacitar a aprender linguagens de notações
diversas no futuro. Em resumo, a base da Ciência da Computação
está lá, todas as outras áreas saem um pouco
por lá. Em particular, no nosso grupo, por uma questão
histórica, a gente utiliza isso mais na área de Engenharia
de Software, mas durante o evento, e até aqui mesmo no DSC
a gente tem pessoas que trabalham um pouco com isso mais em Sistemas
Distribuídos. Então, para o departamento foi um evento
importante por ele trabalhar nessa área básica e,
pelo menos, com relação aos participantes do DSC ficou
bem claro que houve uma distribuição homogênea
de pessoas de todas as áreas assistindo ao evento, não
só da área de Engenharia de Software que é
a área do nosso grupo de Métodos Formais local, mas
tivemos diversos participantes de todas as quatro grandes áreas
do departamento. Então imagino que tenha sido importante
para as pessoas que participaram.
PETNews:
Houve novidades que serão aproveitadas em alguns destes projetos
que a gente tem nessa área aqui?
Patrícia:
Com certeza, o evento foi uma oportunidade muito boa para realização
de intercâmbios. Durante o evento surgiram várias situações
ou oportunidades de conhecimento mútuo entre a gente. Nós
tivemos estes pesquisadores de fora e eu praticamente não
assisti ao evento porque tudo que eu fiz durante o evento foi trazê-los
para conhecer o DSC, os nossos laboratórios, não só
o nosso laboratório específico, mas o laboratório
de Engenharia de Software, o laboratório de Sistemas Distribuídos.
Então deu para salvar um pouco de conhecimento e de articulações
para projetos futuros pelas as pessoas que estavam aqui participando.
Bem como, uma coisa que aconteceu, e foi bastante marcante, foi
que nós tivemos muitos alunos de fora, principalmente Recife,
Natal, Aracaju, e eles todos passaram a conhecer um pouco mais do
DSC. Foram pessoas que se interessaram em vir estudar aqui com a
gente. Bom, foi esse o sentimento que eu tive pelo menos do ponto
de vista de alunos. De professores foi troca de experiências,
foi muito importante.
PETNews:
E como anda o desenvolvimento dos projetos nessa área aqui
no DSC?
Patrícia:
Aqui no DSC nós temos três grandes projetos no momento.
Um é chamado Projeto MOBILE, que é coordenado pelo
professor Jorge, tem um que começou agora em 2003 que basicamente
enfoca o desenvolvimento de verificações de aplicações
baseadas em agentes móveis, para isso aí a gente utiliza
técnicas de Métodos Formais, não só
para a parte de aplicação de modelos como também
para a geração automática de testes. Este é
o grande projeto que a gente tem que envolve o grupo inteiro, temos
vários alunos. Bom, em termos de números especificamente,
o nosso grupo é um dos grupos grandes que a gente tem no
departamento no momento. O grupo de Engenharia de Software é
o maior grupo que existe no DSC hoje em dia em número de
docentes, e o grupo de Métodos Formais acabou se justificando
como um subgrupo porque o grupo de Engenharia de Software é
muito grande. E nós temos três docentes que somos eu,
Jorge e Dalton, temos oito alunos de mestrado em andamento, temos
um aluno de doutorado e temos, se eu não me engano, doze
alunos de iniciação científica, são
alunos da graduação que estão envolvidos nos
nossos projetos. Temos o projeto MOBILE, temos o projeto VERITAS
que é uma verificação de modelos, um projeto
financiado pela CNPq, e tem o COMPTEST que é geração
automática de testes para componentes, também financiado
pela CNPq. E fora a isso a gente tem uma cooperação
com a MOTOROLA, que é um projeto com uma empresa, mas a parte
científica dele está dentro do nosso grupo, a parte
acadêmica dele está dentro do grupo de Métodos
Formais. Estes são os principais projetos que temos no momento.
Nesse instante especificamente existe um edital novo agora no CNPq
que é chamado de Consolidação de Grupos Novos,
e isso se aplica a qualquer grupo que nós temos aqui no DSC,
e nós estamos formando umas parcerias certamente com a UNICAMP
e acho que com a PUC-Rio, em Métodos Formais e em testes.
PETNews:
Você tem algumas considerações finais que queira
dizer?
Patrícia:
Bom, a mensagem que eu gostaria de deixar para os graduandos
é que infelizmente realmente o evento aconteceu no final
do semestre, mas eu acho de extrema importância a participação
de vocês graduandos em eventos desse tipo porque, apesar de
estarmos trabalhando em outra área, essa não é
exatamente a nossa área, mas fica uma oportunidade de aprender
coisas novas. E em particular, Métodos Formais é um
assunto que não é muito visto na graduação,
mas que pode lhe dar um diferencial, então a minha mensagem
é que até para a própria consolidação
do nosso curso a existência de um evento desse no departamento
deve ser prestigiada da melhor forma possível para o próprio
crescimento do departamento. Obviamente eu já fui aluna de
graduação e acho que em mil novecentos e não
me lembro exatamente o ano, houve um Simpósio de Inteligência
Artificial aqui em Campina Grande, eu era aluna de graduação
lá de João Pessoa e aí lembro que vínhamos
todos os dias para cá participar do evento e foi uma experiência
bastante interessante na época, de conhecimento, de conhecer
pessoas, de conhecer outros alunos, intercâmbio com alunos.
Mesmo que você não consiga entender cem por cento do
que está sendo dado no evento, mas você tem a oportunidade
de conhecer pessoas, ver aquele professor e achar interessante o
trabalho que ele está fazendo e ter suporte para você
fazer um mestrado, para você fazer um doutorado, para você
ir trabalhar ou o quer que seja. Então a principal mensagem
que eu deixo é essa, que procurem aproveitar os eventos que
eventualmente acontecerem não só aqui em Campina Grande,
mas aqui na região para conhecimento geral de outras áreas
principalmente.
PETNews:
Bom, obrigada então pela entrevista.
Patrícia:
É um prazer estar dando esta entrevista para vocês.
Gostaria de acrescentar algo. Não sei se é uma informação
importante para vocês, mas nós somos um departamento
emergente, temos uma graduação atuante, mas a realização
do WMF aqui em Campina Grande pode ter sido uma coisa bastante importante
porque este departamento costumava ter uma tradição
de realizar eventos no passado e fazia muito tempo que nós
não realizávamos um evento da SBC. E aí, na
época em que nós cogitamos realizar esse evento aqui,
foi cogitada a situação, "Ah será que
tem público", "Ah será que Campina Grande
tem estrutura para realizar um evento desse tamanho" e etc,
e no final das contas deu tudo certo, o pessoal elogiou bastante,
tanto é que o WMF vai passar a ser simpósio tal o
sucesso que nós tivemos aqui, e de uma certa forma isso foi
bom, inclusive até professores locais não acreditavam
que a gente realmente conseguisse realizar um evento com sucesso
aqui em Campina Grande com todas essas dificuldades que nós
temos, de acesso a cidade, e de não termos feito isso a muitos
anos. Então, de repente, esse evento pode ter sido a porta
para muitos outros virem a ser realizados aqui. Com certeza um evento
desse traz muita coisa boa. O fato de pessoas de fora virem aqui
conhecer a nossa realidade, nós estamos no Nordeste, em um
local extremamente isolado, existe todo um preconceito do pessoal
lá do Sul, então quando eles chegam aqui e vêem
toda essa nossa estrutura, quer dizer, tudo isso foram aspectos
positivos, resultados indiretos que eu acho que foram alcançados
com a realização do evento. Eu andei participando
de outros eventos recentemente e diziam, "Ah, o WMF é
em Campina Grande", "Ah, Campina Grande está realizando
um evento da SBC". Então teve essa repercussão
nacional a nível de pesquisadores de outras áreas,
eles tomaram conhecimento de que já estava acontecendo isso.
Nós começamos com zero por cento de certeza, porque
a coisa é bem complicada, é uma tarefa árdua
de aplicação de recursos, saber se íamos ter
recursos, saber se íamos ter público, tudo isso é
bastante complicado, porque Campina Grande não tem uma atração
turística como Natal, e João Pessoa, e falaram: "Você
é louca, trazer esse evento para cá, não tem
praia, como é que vai ser isso, não é na época
do São João". Mas uma das coisas mais interessantes
que eu verifiquei no WMF é que as pessoas vieram pelo lado
acadêmico do evento, então foi interessante mostrar
que Campina Grande poderia realizar um evento bom, não só
bom, mas realizar a melhor edição que esse evento
já teve até hoje, em todos os aspectos. Então
foi a parte feliz. O resto foi muito trabalho, ainda estou com ressaca
acumulada.
PETNews:
Obrigada de novo Patrícia.
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