Novembro 2003
   

Entrevista com a prof. Patrícia sobre o WMF

O WMF é um evento anual promovido pela Sociedade Brasileira de Computação. Este ano ocorreu aqui em Capina Grande. Fizemos uma entrevista com Patrícia Machado, coordenadora do evento. Confira!

Confira também a entrevista com Alexandre Duarte, técnico das equipes que representaram a UFCG na Olimpíada de Programação da ACM

   
          O WMF (Workshop de Métodos Formais) é um evento anual promovido pela Sociedade Brasileira de Computação (SBC) e destina-se à apresentação e discussão de trabalhos na área de métodos formais. Trata-se do principal fórum de discussão em nível nacional. A VI edição deste evento ocorreu aqui em Campina nos dias 12, 13 e 14 de outubro, realizado pela Universidade Federal de Campina Grande em parceria com a Universidade de Kent, na Inglaterra. O evento foi coordenado pela professora Patrícia Machado, do Departamento de Sistemas e Computação da UFCG. Fizemos uma entrevista com ela para podermos saber um pouco mais sobre como foi este evento.

PETNews: O WMF atingiu as expectativas? O evento saiu como vocês estavam planejando?

Patrícia: Sim, com certeza. O evento foi recorde em todos os pontos. Foi recorde de submissão de arquivos e foi recorde também de participação. Nós tivemos uma boa participação de alunos, professores de vários estados do Nordeste e inclusive do Sul também. Tivemos até participações internacionais. Para o tamanho do evento, que é um evento bem acadêmico, bem fechado, ele realmente foi um sucesso em termos de público.

PETNews: Em relação aos alunos, a participação foi boa, se inscreveram a quantidade de alunos que vocês esperavam?

Patrícia: Como no evento a maioria das palestras eram em inglês, alguns alunos não quiseram se inscrever por causa disso. A gente também teve a dificuldade de coincidir o WMF com uma semana extremamente crítica do semestre aqui, então várias pessoas comentaram comigo que não haviam se inscrito por isso, não só daqui, mas principalmente de João Pessoa, porque aqui ainda foi a semana antes da semana final e lá foi exatamente a semana final. Mas, mesmo assim, acho que houve uma boa participação, como eu falei anteriormente os números foram recordes de todos os WMF’s já realizados, inclusive em regiões mais desenvolvidas que a nossa. Então, de certa forma, isto criou uma imagem bastante positiva. Poderia ter sido melhor, com certeza poderia, até nós tínhamos a esperança, não a esperança, quer dizer, os números foram exatamente o que eu esperava ou além do que eu esperava, mas talvez tivesse sido maior e isso poderia ter sido bom para atrair eventos para Campina Grande. Mas, no final das contas, foi o que a gente esperava, foi um resultado bom.

PETNews: Qual foi o lado bom e o lado ruim de se organizar um evento com uma universidade internacional?

Patrícia: A experiência obviamente é bem interessante. Eu não vejo nenhum ponto negativo na realidade, eu acho que talvez porque as pessoas que participaram desse evento são pessoas com quem eu trabalho já há anos, então apesar de eles serem de outra universidade eu tenho uma relação muito grande com eles.

PETNews: Eu achei que talvez a distância...

Patrícia: A distância dificulta um pouco, mas hoje em dia tem ICQ, Internet e ligação telefônica da Europa para cá é baratíssima, então eles ligavam e a gente acabava falando muitas vezes pelo telefone. Mas tirando a barreira da distância eu acho que foi uma experiência bem interessante.

PETNews: Qual a grande importância que você considera desse evento para a comunidade científica local?

Patrícia: Métodos Formais é uma área que está na base de todas as outras, que envolve Engenharia de Software, Redes de Computadores, Inteligência Artificial, Banco de Dados. É uma área fundamental, qualquer notação que você utilize no seu trabalho, seja UML, seja até JAVA, quando você está programando em JAVA, quando você está fazendo qualquer coisa de Computação você está utilizando Métodos Formais. Então é uma área fundamental que traz conhecimentos gerais que podem lhe capacitar a aprender linguagens de notações diversas no futuro. Em resumo, a base da Ciência da Computação está lá, todas as outras áreas saem um pouco por lá. Em particular, no nosso grupo, por uma questão histórica, a gente utiliza isso mais na área de Engenharia de Software, mas durante o evento, e até aqui mesmo no DSC a gente tem pessoas que trabalham um pouco com isso mais em Sistemas Distribuídos. Então, para o departamento foi um evento importante por ele trabalhar nessa área básica e, pelo menos, com relação aos participantes do DSC ficou bem claro que houve uma distribuição homogênea de pessoas de todas as áreas assistindo ao evento, não só da área de Engenharia de Software que é a área do nosso grupo de Métodos Formais local, mas tivemos diversos participantes de todas as quatro grandes áreas do departamento. Então imagino que tenha sido importante para as pessoas que participaram.

PETNews: Houve novidades que serão aproveitadas em alguns destes projetos que a gente tem nessa área aqui?

Patrícia: Com certeza, o evento foi uma oportunidade muito boa para realização de intercâmbios. Durante o evento surgiram várias situações ou oportunidades de conhecimento mútuo entre a gente. Nós tivemos estes pesquisadores de fora e eu praticamente não assisti ao evento porque tudo que eu fiz durante o evento foi trazê-los para conhecer o DSC, os nossos laboratórios, não só o nosso laboratório específico, mas o laboratório de Engenharia de Software, o laboratório de Sistemas Distribuídos. Então deu para salvar um pouco de conhecimento e de articulações para projetos futuros pelas as pessoas que estavam aqui participando. Bem como, uma coisa que aconteceu, e foi bastante marcante, foi que nós tivemos muitos alunos de fora, principalmente Recife, Natal, Aracaju, e eles todos passaram a conhecer um pouco mais do DSC. Foram pessoas que se interessaram em vir estudar aqui com a gente. Bom, foi esse o sentimento que eu tive pelo menos do ponto de vista de alunos. De professores foi troca de experiências, foi muito importante.

PETNews: E como anda o desenvolvimento dos projetos nessa área aqui no DSC?

Patrícia: Aqui no DSC nós temos três grandes projetos no momento. Um é chamado Projeto MOBILE, que é coordenado pelo professor Jorge, tem um que começou agora em 2003 que basicamente enfoca o desenvolvimento de verificações de aplicações baseadas em agentes móveis, para isso aí a gente utiliza técnicas de Métodos Formais, não só para a parte de aplicação de modelos como também para a geração automática de testes. Este é o grande projeto que a gente tem que envolve o grupo inteiro, temos vários alunos. Bom, em termos de números especificamente, o nosso grupo é um dos grupos grandes que a gente tem no departamento no momento. O grupo de Engenharia de Software é o maior grupo que existe no DSC hoje em dia em número de docentes, e o grupo de Métodos Formais acabou se justificando como um subgrupo porque o grupo de Engenharia de Software é muito grande. E nós temos três docentes que somos eu, Jorge e Dalton, temos oito alunos de mestrado em andamento, temos um aluno de doutorado e temos, se eu não me engano, doze alunos de iniciação científica, são alunos da graduação que estão envolvidos nos nossos projetos. Temos o projeto MOBILE, temos o projeto VERITAS que é uma verificação de modelos, um projeto financiado pela CNPq, e tem o COMPTEST que é geração automática de testes para componentes, também financiado pela CNPq. E fora a isso a gente tem uma cooperação com a MOTOROLA, que é um projeto com uma empresa, mas a parte científica dele está dentro do nosso grupo, a parte acadêmica dele está dentro do grupo de Métodos Formais. Estes são os principais projetos que temos no momento. Nesse instante especificamente existe um edital novo agora no CNPq que é chamado de Consolidação de Grupos Novos, e isso se aplica a qualquer grupo que nós temos aqui no DSC, e nós estamos formando umas parcerias certamente com a UNICAMP e acho que com a PUC-Rio, em Métodos Formais e em testes.

PETNews: Você tem algumas considerações finais que queira dizer?

Patrícia: Bom, a mensagem que eu gostaria de deixar para os graduandos é que infelizmente realmente o evento aconteceu no final do semestre, mas eu acho de extrema importância a participação de vocês graduandos em eventos desse tipo porque, apesar de estarmos trabalhando em outra área, essa não é exatamente a nossa área, mas fica uma oportunidade de aprender coisas novas. E em particular, Métodos Formais é um assunto que não é muito visto na graduação, mas que pode lhe dar um diferencial, então a minha mensagem é que até para a própria consolidação do nosso curso a existência de um evento desse no departamento deve ser prestigiada da melhor forma possível para o próprio crescimento do departamento. Obviamente eu já fui aluna de graduação e acho que em mil novecentos e não me lembro exatamente o ano, houve um Simpósio de Inteligência Artificial aqui em Campina Grande, eu era aluna de graduação lá de João Pessoa e aí lembro que vínhamos todos os dias para cá participar do evento e foi uma experiência bastante interessante na época, de conhecimento, de conhecer pessoas, de conhecer outros alunos, intercâmbio com alunos. Mesmo que você não consiga entender cem por cento do que está sendo dado no evento, mas você tem a oportunidade de conhecer pessoas, ver aquele professor e achar interessante o trabalho que ele está fazendo e ter suporte para você fazer um mestrado, para você fazer um doutorado, para você ir trabalhar ou o quer que seja. Então a principal mensagem que eu deixo é essa, que procurem aproveitar os eventos que eventualmente acontecerem não só aqui em Campina Grande, mas aqui na região para conhecimento geral de outras áreas principalmente.

PETNews: Bom, obrigada então pela entrevista.

Patrícia: É um prazer estar dando esta entrevista para vocês. Gostaria de acrescentar algo. Não sei se é uma informação importante para vocês, mas nós somos um departamento emergente, temos uma graduação atuante, mas a realização do WMF aqui em Campina Grande pode ter sido uma coisa bastante importante porque este departamento costumava ter uma tradição de realizar eventos no passado e fazia muito tempo que nós não realizávamos um evento da SBC. E aí, na época em que nós cogitamos realizar esse evento aqui, foi cogitada a situação, "Ah será que tem público", "Ah será que Campina Grande tem estrutura para realizar um evento desse tamanho" e etc, e no final das contas deu tudo certo, o pessoal elogiou bastante, tanto é que o WMF vai passar a ser simpósio tal o sucesso que nós tivemos aqui, e de uma certa forma isso foi bom, inclusive até professores locais não acreditavam que a gente realmente conseguisse realizar um evento com sucesso aqui em Campina Grande com todas essas dificuldades que nós temos, de acesso a cidade, e de não termos feito isso a muitos anos. Então, de repente, esse evento pode ter sido a porta para muitos outros virem a ser realizados aqui. Com certeza um evento desse traz muita coisa boa. O fato de pessoas de fora virem aqui conhecer a nossa realidade, nós estamos no Nordeste, em um local extremamente isolado, existe todo um preconceito do pessoal lá do Sul, então quando eles chegam aqui e vêem toda essa nossa estrutura, quer dizer, tudo isso foram aspectos positivos, resultados indiretos que eu acho que foram alcançados com a realização do evento. Eu andei participando de outros eventos recentemente e diziam, "Ah, o WMF é em Campina Grande", "Ah, Campina Grande está realizando um evento da SBC". Então teve essa repercussão nacional a nível de pesquisadores de outras áreas, eles tomaram conhecimento de que já estava acontecendo isso. Nós começamos com zero por cento de certeza, porque a coisa é bem complicada, é uma tarefa árdua de aplicação de recursos, saber se íamos ter recursos, saber se íamos ter público, tudo isso é bastante complicado, porque Campina Grande não tem uma atração turística como Natal, e João Pessoa, e falaram: "Você é louca, trazer esse evento para cá, não tem praia, como é que vai ser isso, não é na época do São João". Mas uma das coisas mais interessantes que eu verifiquei no WMF é que as pessoas vieram pelo lado acadêmico do evento, então foi interessante mostrar que Campina Grande poderia realizar um evento bom, não só bom, mas realizar a melhor edição que esse evento já teve até hoje, em todos os aspectos. Então foi a parte feliz. O resto foi muito trabalho, ainda estou com ressaca acumulada.

PETNews: Obrigada de novo Patrícia.

Por Renata França de Pontes
 
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