Novembro 2003
   

POP

Seria o fim dos pop-ups também o fim da Internet como a conhecemos hoje?

 

"O mais novo Internet Explorer virá com um novo sistema antipop-up", é o que dizem as manchetes.

Pronto, se esse sistema realmente funcionar, será o fim das infames janelinhas que sempre abrem no meio da sua melhor leitura.

E isso é bom?

Ao pé da letra, "pop-up" seria algo como "pipocar para cima" (sic), esquece. Leia "pop-up" como "saltar aos olhos". Essa expressão deve ter uma história semelhante ao do "spam", criada por um bando de nerds que passavam o dia assistindo Monty Python e programando, e, assim como o spam, deve ter surgido bem depois de sua concretização. E mais. As semelhanças com o spam não terminam por aí, há ainda seu propósito. Caímos então na pergunta retórica da vez:

O que melhor saltaria aos olhos que uma propaganda?

Sim, ela mesmo, a alma do negócio. Ou melhor, o negócio.

Julgando que o pop-up é considerado pela maioria uma praga, assim como os spams, nada melhor que fazer com que o browser mais usado no mundo - com noventa porcento do mercado mundial - ignore-os, fazendo-os então perder o sentido.

Só há um pequeno problema. E o negócio, pra onde vai?

Pensemos na TV sem a pentelhação do intervalo comercial. Ótimo! Programação de qualidade non-stop! Exceto por... que a TV aberta só existe pela nossa velha e boa propaganda.

Sinto dizer aos ingênuos, mas a TV grátis não é de graça. A graça fica justamente em vender espaços para pessoas venderem imagens, produtos ou conceitos. Sinto muito, mas o programa de televisão só existe para que haja espaço para os comerciais.

Ou você bem achava que era para educar?

Já percebeu a viabilidade de uma televisão sem intervalos comerciais? Ah, e não vale contar com TV a cabo, via satélite e afins, afinal, nesse caso, o telespectador paga pelo conteúdo - e não o anunciante pelo espaço.

Sim, mas voltando ao fim dos pop-ups, e a internet, sem propaganda, existiria?

Uns acabariam dizendo sim - mas lembre-se, estamos falando da Internet como ela é hoje, não aquela chatice de antigamente, só com conteúdo acadêmico ou militar.

Bem, no final das contas, acabaria existindo algo bem parecido, como sempre, mas a diferença cairia só em um aspecto: preço.

O que se vê é que, na Internet, assim como em todos os lugares, nada é de graça - principalmente informação, que é a matéria-prima da rede. A diferença cai mais uma vez em se você vai comprar a informação ou vai trocar um pouco de sua atenção pela mesma porção de dados. Aquele e-mail grátis que você usa acaba sendo pago pelo banner que você lê na tela de login ou na propaganda que "salta aos seus olhos" logo quando você entra na página.

No final das contas, tudo tem um preço, meu filho. O que resta saber é quem vai pagar o quê.

O medo que dá é que esse sistema antipop-up se consolide, junto com o anti-spam e, com isso, pessoas juntem esforços para acabar também com os famigerados banners e, assim, acabar com toda forma de propaganda pela Internet - em outras palavras, com todo o negócio na Internet.

Acabaríamos então chegando a mais uma revolução da rede. Há uma idéia de batizá-la por antecedência, pensei até em um nome sugestivo para a ocasião. Algo do tipo "WWWWOA", a World Wide Web WithOut Advertisements, com um objetivo bem definido: sem fins lucrativos, sem dinheiro, sem graça - assim como organizações filantrópicas, ou cerveja sem álcool.

Por Guilherme Mauro
 
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