E se pudéssemos carregar nossos gadgets com nosso suor?
Por Clenimar Filemon
(clenimar.sousa@ccc.ufcg.edu.br)
Pesquisadores desenvolvem "tatuagem" que gera energia a partir da nossa transpiração.

Hoje em dia, com a explosão do uso de gadgets (pequenos dispositivos eletrônicos portáteis, como MP3 player, smartphones), é comum termos nossa vida diretamente afetada pelo app da moda, pelas novas tendências. Mais que isso, instaurou-se uma ditadura silenciosa e poderosíssima: a ditadura da tomada. A tecnologia das baterias não acompanhou a rápida guinada que deram poder de processamento processamento e miniaturização dos aparelhos, o que criou uma dependência deste item tão comum a todos nós. Na faculdade, na casa do amigo, no shopping, estamos sempre à procura de uma tomada. Viajar às ilhas gregas e não levar um carregador? Erro fatal. E nos aeroportos? Corredores ocupados por “escravos” da tecnologia. Sua coleira? O fio. Sentados no chão à espera da menor possibilidade de postar uma nova selfie ou enviar um novo e-mail ou tentar bater o recorde do seu irmão naquele joguinho legal. E aquele que carregar uma tomada extensora? Um herói contemporâneo.


Mas, ao que tudo indica, esta ditadura está com os dias contados. Além das vertentes mais famosas de formas de energia alternativa, como a solar e a eólica, ganha força agora o estandarte das biobaterias. Mais eficientes, mais ecologicamente corretas — não vão explodir nem vazar substâncias tóxicas —, e democráticas, pois nos libertam da tirania da tomada mais próxima. Pesquisadores da University of California San Diego desenvolveram uma “tatuagem” que utiliza o suor para gerar correntes elétricas fracas. Explico: ao fazermos exercícios físicos intensos, nosso corpo precisa de mais energia. Assim, as células lançam mão da glicólise, processo pelo qual o organismo quebra moléculas de glicose, gerando energia e lactato. Este lactato, quando não é acumulado nos músculos, causando cãibras, é liberado no nosso suor, atuando como “um importante indicador da eficiência da atividade física”, segundo Wenzhao Jia, Ph.D. Médicos utilizam índices de lactato para avaliar pacientes com doenças cardíacas ou respiratórias, enquanto atletas profissionais monitoram a eficácia do seu programa de treinamento da mesma forma. Contudo, os testes de lactato atuais não são práticos, já que envolvem várias coletas de sangue do avaliado durante a atividade física.


A tatuagem tem dimensões entre 2 e 3 milímetros.


Wenzhao Jia é estudante de pós-doutorado e trabalha no laboratório de Joseph Wang, D.Sc. Eles imprimiram um sensor de lactato num papel de tatuagem temporária. O sensor contém uma enzima que tira os elétrons do lactato, gerando corrente elétrica. Os pesquisadores aplicaram a tatuagem em dez pacientes saudáveis durante seções de meia hora em bicicletas ergométricas. Assim, puderam medir os níveis de lactato de forma contínua e menos intrusiva. O time, então, decidiu dar uma passo à frente e trabalhar na construção de uma biobateria que se beneficiasse dessa corrente gerada. Também foi observado que pessoas mais sedentárias produzem mais energia (possivelmente por atingirem o cansaço - e o estado de glicólise - mais depressa). A quantidade máxima de energia que o sensor pode produzir é 70 µW/cm². Por causa das suas dimensões (aprox. 2 ou 3 mm), isso significa uma quantidade de aproximadamente 4 µW de energia. Para efeito comparativo, um relógio digital precisa de aproximadamente 10 µW de energia. "A quantidade de energia não é tão grande, mas estamos trabalhando para otimizar isso de modo a podermos carregar pequenos dispositivos eletrônicos”, disse Jia. "Essas biobaterias representam o primeiro exemplo de biosensores epidérmicos eletroquímicos e células de biocombustível que podem ser usadas para uma larga escala de aplicações,” disse Wang.


Assim, apesar de ainda estarem “engatinhando”, as biobaterias apresentam enorme potencial para nos tornar mais autônomos em relação à energia elétrica. Daqui a alguns anos, estima-se que o custo de sua produção será inferior ao das baterias convencionais, o que possibilitará sua popularização e uso ao redor do mundo.


Fonte: Phys.org/ACS


Jornal PETNews - Edição: Rafael Rêgo e Julie Pessoa- Revisão: Lívia Sampaio e Gleyser Guimarães
Grupo PET Computação UFCG, 2013. All rights reserved.