| Poucos 
                    devem ter percebido, mas a série Guerra nas estrelas, 
                    de certa maneira, mudou de nome. Agora, por determinação de 
                    um senhor chamado George Lucas, nos quatro cantos do mundo, 
                    a hexalogia que foi iniciada pelo meio (a desculpa foi que 
                    “naquela época, não havia tecnologia o suficiente para retratar 
                    as três primeiros episódios”) se chama agora Star wars. 
                    O motivo é óbvio, ainda mais vindo do próprio George Lucas: 
                    marketing. 
 Deixe que eu explico. Digamos que você vai à Alemanha - a 
                    passeio ou a trabalho, isso não interessa - e seu filhinho, 
                    louco por aquelas navezinhas que atiram para tudo quanto é 
                    lado daquele filme que tem aquela princesa que possui um dos 
                    penteados mais estranhos do cinema, pede um brinquedo, um 
                    presentinho, de lá. Tá certo filhinho. Então, você se encontra 
                    na maior loja alemã de brinquedos, um recinto com centenas 
                    de metros quadrados de alas e mais alas de diversão para crianças. 
                    Faltam cinco minutos para fecharem todas as portas e um dia 
                    para o “pai exemplar” voltar ao Brasil. A sua frente, um empregado 
                    da loja com cara de poucos amigos. Você não sabe uma palavra 
                    que não seja português, ele, uma que não seja alemão. E agora? 
                    Ufa! Ainda bem que a série de brinquedos, tanto na Alemanha 
                    quanto no Brasil, tem o mesmo nome e você acabou chegando 
                    em casa justamente com aquele que faltava para seu filho completar 
                    sua coleção. Simples, não?
 
 Agora, o que o título, esta introdução e o resto deste texto 
                    têm a ver um com o outro? Isto eu deixo para você, leitor, 
                    só digo que eu tinha que começar de alguma maneira.
 
 Confeccionar um título, para alguns, é mais difícil que escrever 
                    toda a obra. Sempre devemos nos lembrar que a primeira impressão 
                    é a que fica - e primeiro, lógico, vem o título. Título este 
                    que deveria ser “imexível”, assim como toda a obra - imagine 
                    se, por motivos culturais, Romeu e Julieta (Romeo 
                    and Juliet), de Shakespeare, fosse mudado para Severino 
                    e Maria?
 
 Infelizmente, para o terror dos artistas e de alguns cinéfilos, 
                    insistem em trazerem ao Brasil, assim como a outras partes 
                    do mundo, títulos traduzidos e, o pior, com o mínimo de cuidado 
                    artístico e/ou bom senso.
 
 Um título pode até ter sido “salvo” pelo marketing, mas outros 
                    pereceram por causa, justamente, da auto-promoção. Um exemplo 
                    é a série do agente mais famoso de todos os tempos (não, não 
                    é Austin Powers, apesar de ter ocorrido algo parecido com 
                    ele): Bond, James Bond. Fato: Nenhum, eu disse nenhum, título 
                    original dos filmes de 007 possui o código do agente, ou muito 
                    menos o “contra”. Ou seja, o certo seria Só se vive duas vezes, 
                    You only live twice, e não (sic) Com 007 só se vive 
                    duas vezes; ou era para ser apenas Octopussy (idem, 
                    no original), ao invés do pomposo 007 contra Octopussy.
 
 Apesar de sempre afirmarem que “cinema é cultura”, as distribuídoras, 
                    os agentes de marketing e o resto da legião que nos fazem 
                    o favor de trazer filmes ao Brasil, acham que somos aculturados 
                    - ou estúpidos, dependendo do humor de quem está lendo. Dá 
                    até para fazer uma lista dos deslizes que cometem. E isto 
                    só em relação aos títulos! Confira:
 
 1. Devem achar que não somos capazes de caracterizar o personagem 
                    principal de um filme, afinal o certo é Forrest Gump - 
                    O contador de histórias (Forrest Gump), que, por 
                    sinal, acabou passando uma impressão que o personagem é mentiroso, 
                    o que, definitivamente, não é verdade - palmas para o tradutor!
 
 2. A loucura, nos títulos, é sempre motivo de comédia - barulho 
                    também -, basta conferir os “clássicos” da década de 80, onde 
                    tudo é “muito louco” (ou “do barulho”, é claro) e/ou sempre 
                    tem “um maluco” em todo lugar, seja no exército, na polícia, 
                    etc. O engraçado foi que, quando acabaram as variações para 
                    a loucura, surgiu o “da pesada” - Eddie Murphy atuou em Beverly 
                    Hills cop. Ah! bons tempos aqueles!
 
 3. Há ainda o caso da indecisão: Pulp fiction ou Tempo de 
                    violência? A.I. ou Inteligência Artificial? Resident evil 
                    ou O hóspede maldito? Registrado em cartório: Pulp fiction 
                    - Tempo de violência, A.I. - Inteligência Artificial 
                    e Resident evil - O hóspede maldito (isso só para 
                    esquentar).
 
 4. Também há o caso da inserção de personagens na história 
                    pelo título. Quem me responder quem é o Dr. Fantástico 
                    no filme de Kubrick (Dr. Strangelove or: How I learned 
                    to stop worrying and love the bomb) ganha um doce. Tudo 
                    bem que um dos personagens interpretados por Peter Sellers 
                    - o próprio dr. Strangelove - foi fantástico em sugerir, se 
                    não me engano, dez mulheres para cada homem...
 
 5. E, por último mas não menos importante, há também a tentativa 
                    de brincar com as palavras, como na poesia. Mas, para depois 
                    não dizerem que só critiquei, houve uma destas brincadeiras 
                    que soou ótima: Um dia, dois pais (Father´s day). 
                    Mas, como o Yin não existe sem o Yang: Austin Powers, o 
                    agente bond cama (Austin Powers: the spy who shagged 
                    me) que, na verdade, era para parodiar o título 007 
                    O espião que me amava (The spy who loved me).
 
 É, deve ser só isto dentro do que me recordo. Se alguém por 
                    aí se lembrar de alguma outra pérola titular (gostou? sei 
                    brincar também com as palavras!) que não mencionei, não se 
                    acanhe, comente! Estamos aqui para isto.
 Enquanto isso, na sala de justiça, vou procurar por aqui quando 
                    é que irão reprisar Se meu fusca falasse (The love 
                    bug, sem comentários) pela milésima vez - afinal toda 
                    pessoa necessita de nostalgia de vez em quando...
 
 Até a próxima.
 
 * O que este título tem a ver com o texto? Nada. E nem com 
                    o filme o qual representa, que se chama Shane - o personagem 
                    principal, que pode até ser bruto, mas não ama.
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