Entrevista com Laerte Xavier, estudante de Ciência da Computação da UFCG que está num intercâmbio em Lyon, França.
Por Savyo Nóbrega
(savyo.santos@ccc.ufcg.edu.br)
Na entrevista deste mês, o aluno Laerte Xavier conta como está sendo a experiência de estudar em outro país, assim como as dificuldades que enfrentou durante esse tempo.




Laerte Xavier.

Grupo PET - Olá Laerte, fale um pouco sobre você.

Laerte - Oi, meu nome é Laerte, e tenho 22 anos. Sou de João Pessoa, mas desde 2008 me mudei para Campina Grande para fazer a graduação em Ciência da Computação na UFCG. Como a maioria, vim em busca do curso pelo destaque que ele tem em relação aos demais da região e pela qualidade dos profissionais que são formados. Em abril do ano passado, fui selecionado como bolsista do programa BRAFITEC da CAPES e, desde agosto do mesmo ano, moro na França como estudante de intercâmbio com o INSA-Lyon (Instituto Nacional de Ciências Aplicadas de Lyon). Estou no meu último mês de intercâmbio, concluindo um estágio que comecei em março desse ano numa empresa de consultoria francesa.

Grupo PET - Como surgiu a ideia de ter essa experiência em outro país? E por que escolheu a França?

Laerte - A ideia do intercâmbio surgiu em 2010 quando recebi pela lista da graduação a chamada de candidaturas para essa bolsa do BRAFITEC. Naquela época, a oferta me pareceu bastante interessante por se tratar de uma boa oportunidade de ter uma experiência no exterior, com uma bolsa que me ajudaria a custear as despesas nesse período. Entretanto, acabei não me candidatando naquele ano porque achei que fazia muito pouco tempo que tinha começado o francês (havia concluído apenas um semestre de um curso de francês que comecei por pura curiosidade). Continuei o curso, fiz algumas aulas durante as férias de janeiro e, no ano seguinte (2011), candidatei-me para a bolsa.

Grupo PET - Como se deu o processo de seleção?

Laerte - A seleção foi rápida e tranquila. Para a fase de inscrição, tivemos que elaborar um plano de curso, com as cadeiras que desejaríamos cursar aqui na França e suas equivalências no Brasil. Além disso, entregamos alguns documentos como CV (Curriculum Vitae) e carta de motivação, que serviram para a comissão de seleção analisar nossas candidaturas.

Uma semana após a inscrição, recebemos um e-mail com a data das provas escrita e oral de francês. Como participaríamos do dia-a-dia da universidade aqui da França, como alunos efetivos dos departamentos aos quais estávamos nos candidatando, era necessário que tivéssemos um conhecimento prévio da língua (pelo menos o mínimo para se comunicar e participar da vida estudantil). A prova oral foi também um pouco como entrevista e, nela, foram avaliadas nossas experiências e motivações para viver esse tempo fora. Passado esse processo, na mesma semana, recebemos o resultado dos aprovados para bolsa.

Grupo PET - Qual foi a duração do intercâmbio?

Laerte - O intercâmbio foi de um ano, com 6 meses de aulas na universidade e mais 6 meses de estágio em uma empresa francesa.

Grupo PET - Durante esse tempo, você visitou outros países na Europa?

Laerte - Sim. Uma coisa legal do calendário acadêmico francês é que eles têm alguns períodos de recessos de duas semanas no meio do período letivo. Isso ajuda a dar uma descansada da correria dos trabalhos e projetos e, para nós intercambistas, possibilita um tempo para conhecer mais da Europa. Além disso, a facilidade de transporte entre os países, com custos incrivelmente baixos, facilita a vida daqueles que gostam de se aventurar com uma mochila nas costas. Assim, consegui visitar muita coisa e ter contato com várias culturas e costumes diferentes. Não dá pra negar que essa é uma das melhores partes do intercâmbio!

Grupo PET - Fale mais sobre o laboratório e a universidade em que você estudou.

Laerte - A universidade para qual nós somos enviados como alunos intercambistas aqui na França é o Instituto Nacional de Ciências Aplicadas de Lyon (INSA-Lyon). Trata-se de uma renomada universidade de engenharia francesa, que possui diversas unidades no país inteiro. O Campus de Lyon é muito bem estruturado, com diversos prédios de alojamento, biblioteca moderna, cinco restaurantes que servem café da manha, almoço e jantar e uma excelente estrutura de esporte e lazer. Além disso, a vida estudantil é bastante movimentada, com vários eventos promovidos pelas associações e departamentos.

O curso no departamento de computação para um aluno do quarto ano (do qual fiz parte) era constituído de aulas nos turnos da manhã e da tarde. Pela manhã, tínhamos aulas práticas e de projeto das 8 às 12 horas, diariamente, em grupos de 6 alunos (escolhidos no início do semestre pela coordenação do curso). À tarde, tínhamos aulas expositivas no anfiteatro do departamento. Para sermos aprovados nas disciplinas, precisávamos alcançar coeficiente mínimo nos projetos e trabalhos desenvolvidos pela manhã e alcançar nota mínima numa prova final aplicada ao término de cada disciplina.

Após seis meses de aula, comecei o estágio na empresa que trabalho hoje. Trata-se de uma empresa de consultoria situada em Paris, que presta serviços para diversas empresas francesas, como a Orange e o grupo Cassino. Trabalho atualmente em dois projetos paralelos, desenvolvendo uma aplicação para aparelhos iPhone e implantando uma solução BI numa empresa ligada ao Ministério de Defesa francês.

Grupo PET - Onde você morava? Como era seu custo de vida lá?

Laerte - Durante os seis primeiros meses, morei no alojamento da residência. Tinha um apartamento de dois quartos, que dividia com um alemão que cursava Engenharia Mecânica. As residências eram geridas pela própria universidade e eles forneciam todo o apoio com lavanderia 24 horas e um funcionário por prédio pra ajudar em casos de urgência. O custo era razoável e dava pra ser coberto com a bolsa do BRAFITEC e um auxílio moradia pago pelo governo francês.

Grupo PET - O que você mais gostou da França? Alguma curiosidade ou momento engraçado de lá?

Laerte - A França, assim como todos os países da Europa, é cheia de história e lugares extremamente bonitos. Acho que o que mais gostei foi essa possibilidade de ver concretamente aquelas coisas que só víamos ou ouvíamos falar quando estudávamos História na escola. Além disso, foi legal conhecer outra grande parte da história da França, principalmente das cidades em que pude visitar, que normalmente não teria oportunidade de ver se não as tivesse visitado.

Como é de se esperar, o tempo de adaptação foi cheio de histórias engraçadas, trapalhadas e problemas, principalmente pela língua diferente e os hábitos aos quais não estávamos habituados. Os almoços no Restaurante Universitário nas primeiras semanas eram, sem sombra de dúvida, a maior aventura, que muitas vezes não resultavam em muito sucesso (risos).

Grupo PET - Como foi lidar com a língua francesa no dia-a-dia?

Laerte - O início foi mais complicado, como já era de se esperar. A parte boa é que o INSA organiza uma escola de verão para todos os seus intercambistas, um mês antes das aulas começarem de fato. Nesse curso, temos aulas intensivas de francês e ainda temos a oportunidade de nos integrarmos com todos os outros intercambistas do campus, que normalmente estão passando pelos mesmos problemas de adaptação e mudança. Isso ajudou bastante e promoveu amizades que foram de extrema importância pelo intercâmbio inteiro.

Grupo PET - O que você achou dessa experiência e o que ela contribuiu na sua formação pessoal e profissional?

Laerte - É inegável o ganho e o crescimento que conseguimos numa experiência dessas, tanto profissionalmente quanto pessoalmente. Profissionalmente, a oportunidade de estar numa universidade em outro país, renomada e bem reconhecida na França, foi excelente principalmente para reconhecer a qualidade do nosso curso em Campina Grande e perceber que em vários aspectos estamos bem à frente deles! A busca por estágio foi outra grande experiência, pois o processo foi demorado e cansativo.

Pessoalmente, creio que qualquer experiência fora do país seja extremamente útil. Foi minha primeira experiência e, sem sombra de dúvidas, o crescimento foi muito grande!

Grupo PET - Que conselhos você daria aos interessados em fazer intercâmbio?

Laerte - Insegurança e dúvida são normais, mas pra quem tem o mínimo de interesse numa experiência dessas, eu diria para não titubear! Não existe a menor possibilidade de algo desse tipo não ser útil nem enriquecedor para qualquer pessoa. Portanto, é ir atrás daquele país que se interessa, ver universidades boas que tenham convênio com países estrangeiros ou tenham uma boa abertura para intercambistas e se inscrever.

Para os interessados em participar do programa BRAFITEC, as seleções acontecem sempre no início do ano, para o ano letivo que se inicia em setembro aqui na França. Para mais informações, indico entrar em contato diretamente com o professor Carlos, do departamento de Engenharia Mecânica e coordenador do programa na UFCG, por meio do e-mail: carlos@dem.ufcg.edu.br. No mais, boa sorte!

Grupo PET - Laerte, muito obrigado por nos conceder esta entrevista.

Laerte - De nada.

Jornal PETNews - Edição: Jeymisson Oliveira - Revisão: Iago Araújo e Joseana Fechine
Grupo PET Computação UFCG, 2012. All rights reserved.