Entrevista com o professor Andrey Brito do Departamento de Sistemas e Computação.
Por Natasha Bezerra
(natashabs@gmail.com)
Confira como foi a sua formação acadêmica e qual a sua área de atuação atual.

Grupo PET – Professor, o senhor é natural de qual cidade?

Andrey Brito – Sou de Garanhuns/PE, mas sempre morei em Campina Grande.

Grupo PET – Qual a sua formação? Quando e onde se formou?

Andrey Brito – Eu fiz graduação em Engenharia Elétrica e em Computação aqui na UFCG (embora tenha começado quando ainda era UFPB). Comecei elétrica primeiro e me interessei imediatamente por automação. No entanto, depois de 3 semestres eu achei que para a área de automação eu precisaria de mais conhecimento em computação (em especial, eu achava que poucas pessoas em elétrica sabiam fazer bons programas, que fossem eficientes, simples de manter, testados, etc.). Naquele tempo era possível ter duas matrículas ativas na universidade, então resolvi fazer os dois cursos em paralelo.

Terminei elétrica no início de 2002 e entrei em seguida no mestrado em Informática. Neste ponto eu já estava bastante interessado em sistemas distribuídos. A ideia de um sistema que é composto de diversas partes que se comunicam e colaboram para atingir uma meta comum me parece fascinante, seja um sistema de hardware (como um conjunto de equipamentos em uma grande fábrica) ou um sistema de software (como a Internet). Meu mestrado usou um pouco de computação e um pouco de engenharia elétrica, eu projetei um conjunto de dispositivos que monitoravam computadores e se comunicavam para que falhas nesses computadores (ou em aplicações específicas dentro deles) pudessem ser detectadas rapidamente.

Terminei o mestrado em 2004 e a graduação em computação em 2005 (durante o mestrado, não cursei muitas disciplinas da graduação). Depois do mestrado, passei um ano como assistente de pesquisa no LSD e então fui para a Universidade de Tecnologia de Dresden (TU Dresden), Alemanha, onde fiz meu doutorado de 2006 a 2010.

Prof. Andrey Brito.

Grupo PET – Hoje, qual a sua área de pesquisa dentro da UFCG?

Andrey Brito – Eu me interesso por sistemas distribuídos em geral (programação paralela e concorrente, tolerância a falhas, algoritmos distribuídos) e por sistemas de automação (ainda um resquício dos tempos de engenharia elétrica). No momento, minhas pesquisas são voltadas a técnicas para processamento de dados que são produzidos continuamente. Por exemplo, se você tem um conjunto de "fontes" que produzem muitos dados (sejam estes imagens, sons, dados meteorológicos, twitts, entradas de blog, etc.) pode não ser possível analisar os dados manualmente em busca de situações relevantes. Processamento de fluxo de dados é a área que estuda técnicas para processar dados que chegam continuamente, de forma rápida (pois algumas informações só são úteis por pouco tempo), de forma confiável (se você depende desses dados, você não quer que seu sistema pare porque, em algum lugar bem longe de você, a Internet caiu) e de uma forma que permita continuar processando mesmo que a quantidade de dados cresça rapidamente.

Grupo PET – Quais motivos o levaram a escolher essa área?

Andrey Brito – Enquanto procurava temas para o meu doutorado, achei que a área de processamento de fluxos de dados seria uma área de importância crescente. A motivação para essa área é que hoje em dia temos muitas fontes de informação que geram dados continuamente. Por exemplo, um celular pode gerar dados de localização geográfica periodicamente (e até mesmo pode gerar outros tipos de conteúdo, como imagens). Essa informação poderia, por exemplo, ser usada para rastrear veículos de carga, detectando rapidamente problemas como uma parada excessivamente demorada, excessos de velocidade, desvios de rota, etc.

Ainda acho que essa área é bem promissora, cada vez mais dispositivos estão conectados à Internet (por exemplo, em breve geladeiras vão poder twittar que o leite acabou) e essa conexão permite que eles gerem dados de forma contínua. Obviamente, todos esses dispositivos geram mais dados que um ser humano consegue acompanhar, então a ideia é que sistemas automatizados vão detectar as situações relevantes dentro desta grande massa de dados vindo de diferentes fontes.

Grupo PET – Durante a graduação, foi monitor de disciplina ou trabalhava em projetos da área?

Andrey Brito – Eu participei de bolsas de iniciação científica a partir do segundo período. Acho muito importante participar de projetos, pois ajuda a exercitar não só o conhecimento visto nas disciplinas, mas também habilidades como o trabalho em equipe e a documentação e defesa de ideias. Participei de programas de capacitação (como o PCT da Motorola e o PRH da ANP); a vantagem desse tipo de programa é que você aprende tecnologias que estão em uso no mercado.

Grupo PET – Já teve outras experiências como professor ou esta é a primeira?

Andrey Brito – Esta é a primeira.

Grupo PET – Neste ano, o senhor está lecionando quais disciplinas?

Andrey Brito – Introdução à Computação, Teoria da Computação e Fundamentos de Programação Concorrente.

Grupo PET – O senhor é orientador de alguma pesquisa? Qual?

Andrey Brito – A pesquisa que oriento atualmente é sobre o processamento de fluxos de dados em sistemas distribuídos de larga escala, bem relacionado com os tópicos que falei anteriormente. Participo de outras pesquisas na mesma área em cooperação com meus ex-colegas de Dresden.

Grupo PET – Qual a sua orientação para os alunos que desejam seguir a mesma área que o senhor trabalha?

Andrey Brito – A área de sistemas distribuídos é muito abrangente. Hoje em dia quase tudo depende em algum grau de uma aplicação distribuída (Internet, telefonia, cartões de crédito). Logo, tem espaço para todo o tipo de interesse (usabilidade, confiabilidade, segurança, escalabilidade, etc.). No entanto, alguns conhecimentos são muito importantes mas sua aplicabilidade às vezes passa desapercebida durante a graduação. Por exemplo, os conhecimentos relacionados à teoria e à estatística. Estar disposto (e aberto) a entender as motivações e potenciais usos dessas disciplinas pode lhe trazer um bom retorno no futuro.

Grupo PET – E para os demais alunos? O que devem fazer para serem bons alunos e terem mais oportunidades no curso e depois de formados?

Andrey Brito – É importante conhecer diversas áreas e possibilidades de carreira. Projetos de pesquisa e programas de capacitação lhe dão essas oportunidades. Uma vez que você conhece as opções é mais fácil identificar que coisas você gosta mais e quais consegue fazer melhor.

Grupo PET – Para finalizar, gostaria de deixar uma mensagem para os nossos leitores?

Andrey Brito – Em primeiro lugar agradeço pelo convite para a entrevista. Em segundo lugar, faço um convite aos leitores: olhem ao seu redor e vejam quantos dispositivos poderiam gerar dados que facilitariam sua vida de alguma forma se ao menos eles cooperassem para trabalhar a seu favor (carros, celulares, geladeiras, fogões, alarmes, dados já disponíveis na Internet)? Mesmo que o dispositivo não esteja conectado agora (por exemplo, sua geladeira ainda não é wireless?), não é mais uma questão de custo, é só uma questão de motivação. Como usar possíveis fontes de informação ao nosso redor para facilitar nossa vida? Existem incontáveis aplicações interessantes que já são possíveis hoje, mas ninguém ainda teve a ideia e esse é um tipo de pesquisa que fazemos hoje no LSD. Convido a todos que tenham interesse nesses desafios a entrar em contato conosco.

Grupo PET – Nós que agradecemos pela entrevista, professor.

Jornal PETNews - Edição: Caio Paes - Revisão: Janderson Jason e Joseana Fechine
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