Entrevista com Guilherme Santos, aluno de Ciência da Computação da UFCG que está participando do Programa Ciência sem Fronteiras (Estados Unidos)
Por Natasha Bezerra
(natashabs@gmail.com)
Ele nos revela a sua escolha pelo curso de Ciência da Computação na UFCG, detalhes do processo de seleção no Programa CsF e como está sendo essa experiência.
Lake Mendota congelado.

PET - Guilherme, fale sobre você.

Guilherme - Sou Guilherme Santos, nascido em São Paulo, mas já faz 10 anos que saí de lá junto com minha mãe, tia, vó e irmãos (somos trigêmeos!) e fomos morar em Intermares, Cabedelo, bem pertinho (dá pra ir a pé) de João Pessoa. Hoje tenho 19 anos, quase 20, falta um mês e poucos dias pra eu completar 20 anos.

PET - Por que escolheu o curso de Ciência da Computação da UFCG?

Guilherme - O curso de Ciência da Computação em si já estava decidido há algum tempo (tanto que só fiz vestibular para CC em todas as universidades que eu tentei), mas pela razão "errada" de ser criador de jogos. Eu tive um contato antes do ensino médio com algumas IDE de desenvolvimento de jogos como RPG Maker, The Games Factory, entre outras. Então, eu estava bem empolgado com relação a essa área, ainda sou um pouco, na verdade. O bom de ter tido contato com essas ferramentas cedo foi que eu aprendi, mesmo que sem querer, alguns conceitos das linguagens de programação antes de saber o que era uma linguagem de programação, como, por exemplo, as coisas básicas, como laços, condicionais e variáveis (lembro que eu comemorei comigo mesmo quando eu entendi o que era uma variável, lendo uns tutoriais na Internet). Enfim, a decisão de ir para a UFCG foi meio que "em cima da hora". Eu fiz o vestibular mais para me preparar para o da UFPB. Eu nunca tinha olhado um exemplo de prova nem nada e por isso pensei que não ia nem passar. Mas, quando eu passei na primeira etapa, me bateu um arrependimento de não ter me dedicado melhor e estudado coisas que eu sabia que iam cair na segunda etapa e que eu não sabia uma gota, por exemplo, Física Moderna. Foi aí que eu pensei na possibilidade de ir para Campina - eu sabia que era melhor que a UFPB em computação, tinha lido isso em vários lugares antes - então, deixei a decisão para depois, caso passasse na prova. O resultado saiu logo, e, antes mesmo de sair o resultado da UFPB, eu já havia acertado onde ia morar em Campina. Olhando para trás, vejo que foi uma escolha muito acertada.

PET - Como surgiu o interesse em participar do Programa Ciência sem Fronteiras (CsF)?

Guilherme - Então, em relação ao que interessa, o programa chegou muito de repente. Na verdade, um amigo meu de elétrica e antigo colega de quarto havia mandado para mim e uns amigos um link para uma publicação anunciando que o governo implementaria esse programa em 2012. Isso foi em junho, julho de 2011. Eu lembro que a gente ficou bem empolgado com o programa e se imaginando como seria se a gente passasse, mas foi de uma forma totalmente incrédula. A história morreu aí. Só depois de alguns meses, fiquei sabendo de uma reunião sobre o programa lá na UFCG (mas só fiquei sabendo depois que ela aconteceu). Eu e uns amigos corremos atrás da SAI (Secretaria para Assuntos Internacionais) da UFCG e pegamos algumas informações com eles (a coordenação do curso não sabia muito em relação ao programa, mas acredito que agora ela está bem mais informada e pode ajudar os próximos interessados). Vi que meu perfil não seria desclassificado por nenhuma das restrições (por sorte eu ia completar 40% do curso quando acabasse o período corrente - meu 4º período). Então, da mesma forma que algumas pessoas, corri atrás dos requisitos.

PET - Como foi o processo de seleção no Programa CsF?

Guilherme - Foi tudo muito corrido: tínhamos que fazer uma prova de proficiência em inglês (o TOEFL) que era cara, e só podia ser feita em outra cidade (de outro Estado). Já foi a primeira barreira. Mas, a gente correu atrás assim mesmo, estudei o tempo que eu pude para me preparar, em meio as outras coisas que tinha que fazer - as cadeiras que eu estava pagando e as tarefas no LSD - e fiz a prova no dia 10 de outubro. O resultado positivo saiu em duas semanas: havia conseguido uma nota acima do corte de 79 pontos: fiz 93 de 120. Em meio a isso, tínhamos que correr atrás de cartas de recomendação dos professores. A etapa interna da UFCG requereu 2 cartas e outras documentações (currículo, histórico, entre outros), e, depois, a CAPES e o IIE (Institute of International Education) requereu mais outras 2 cartas, fora outras documentações como um formulário a ser preenchido pelo coordenador do curso, e algumas redações sobre si mesmo, dizendo suas intenções em participar do programa, o que você esperava ganhar numa experiência dessa, bem como o que pretendia fazer ao voltar pro Brasil. Eu fiz questão de falar sobre aquelas besteiras de jogos acima porque eu coloquei alguns aspectos dessa história nas redações que tive que escrever. Depois dessa etapa burocrática, o resto do tempo foi esperar (muito) e garantir que eu ia pagar bem as cadeiras que eu estava matriculado, não apenas pelos motivos óbvios, mas também porque disso poderia depender eu ser aceito no intercâmbio ou não (tinha que pagar todas para completar 40% do curso).

Dormitório.

PET - Para qual Universidade/cidade/país você foi selecionado? E qual a duração do intercâmbio?

Guilherme - Então, no dia 12 de dezembro, recebi a confirmação de que fui aceito para estudar na University of Wisconsin-Madison (UW-Madison). Fiquei muito feliz com o resultado! O nome da universidade já mapeia a sua localização, em Madison, Wisconsin - EUA. O intercâmbio tem duração de um ano, e, passado já o primeiro mês, já sinto que vou sentir muitas saudades daqui.

Corredor do meu dormitório.

PET - A participação no intercâmbio alterará o período que pretendia concluir o curso?

Guilherme - Antes de vir para cá, pensei que ia atrasar o curso no Brasil, mas estou vendo que talvez não, já que consegui me matricular em cadeiras que podem ser facilmente mapeadas para algumas da nossa grade aí (SO, Engenharia de Software, IA - estou pagando mesmo sem ter os pré-requisitos na UFCG, está dando para acompanhar... seja o que Deus quiser quando eu voltar, hehe) e outras que nem tanto, como "C++ for Java programmers" de 1 crédito e Fundamentos de Modelagem de Sistemas de Computadores (essa não sei como vai ficar, mas está valendo muito a pena essa cadeira).

Vista da Janela - Lake Mendota.

PET - Como está sendo sua rotina?

Guilherme - Uma coisa que eu notei que é muito interessante e acho que as nossas universidades deviam adotar são as aulas de menor duração, mas com mais exercícios para se fazer em casa. Nas quartas, eu tenho 4 aulas seguidas, mas é impressionante como eu tenho tempo para fazer tantas outras coisas, como ir malhar, sair com a galera (tem um bar que os estudantes de outros países - da França à China) vão assiduamente todas as quartas-feiras. É como se fosse o Marcos de Madison - mas com cerveja é claro... Já dizia meu amigo Rodolfo: “Madison, mais conhecida como Mad-Town..” =P), e fazer os exercícios em um horário que não seja à noite. Acho que de tudo, é desse tempo livre que eu vou mais sentir falta.

  • Estou tentando aproveitar ao máximo todos os recursos da universidade, desde a academia a umas aulas extra sobre alguns tópicos como HTML, CSS, JavaScript, e até mesmo outros curiosos como Photoshop, After Effects, entre outros. Tem muita coisa rolando aqui na universidade, são muitas as oportunidades de estágio no verão (Já ocorreram 2 feiras de estágio por aqui), mas não sei como vai ser o meu verão ainda.

Às vezes tenho a impressão de que eu sou o que menos sabe das coisas comparado com os outros alunos de computação daqui. Mas não sei se isso procede mesmo, já que descobri que uma das cadeiras que estou pagando (Modelagem) quase que só tem alunos de mestrado (não sabia que isso era possível). Vou fazer o projeto de Engenharia de Software num grupo com 4 americanos, então vou poder saber se era só impressão mesmo...

Observatory St. e Natatorium ao fundo.

PET - Qual está sendo a maior dificuldade?

Guilherme - Na primeira semana, foi difícil me acostumar com as aulas em inglês, os professores falam muito rápido, mas agora já está dando para acompanhar. Já me acostumei com o frio (aqui neva pra caramba), com a cidade, com a vida aqui. Estou morando sozinho num quarto bacana, mas o banheiro, que se encontra no corredor, divido com mais umas 15 pessoas que moram no mesmo andar que eu aqui na residência. Ela é bem localizada, vou a pé para todas as aulas. Comprei uma câmera esse fim de semana, estou indo para as aulas e tirando fotos ao mesmo tempo.

A cidade é muito bonita, tem muitas mulheres bonitas, enfim, o pessoal em geral é bastante simpático. Estou aqui com mais alguns brasileiros pelo programa CsF: 4 pela CAPES (uma de Recife e os outros 3 do Sudeste - Minas, Espírito Santo e Rio) e 5 pelo CNPQ (há duas formas de participar do programa, pelo edital da CAPES ou CNPQ). O nosso Advisor (algo como mentor) é um cara muito gente fina, nos ajudou bastante no processo de matrícula nas cadeiras. É complicado chegar na Universidade em janeiro quando todos os outros alunos já se matricularam em novembro, então a ajuda dele foi fundamental para eu conseguir me matricular em cadeiras que já estavam cheias.

Computer Science Building.

PET - A bolsa que recebe do Programa CsF é o suficiente para suprir suas necessidades no país em que está vivendo?

Guilherme - A bolsa de $300 dólares está sendo suficiente, mas porque não temos que pagar pela moradia, alimentação nem transporte - há ônibus de graça e os que não são, temos um cartão que permite andar neles "infinitamente". Basicamente, ela está servindo para comprar livros, roupas de frio, entre outros. Depois que recebemos uma grana para comprar um notebook (graças ao feliz Ministro de Educação Aloizio Mercadante), as coisas ficaram mais do que tranquilas por aqui...

PET - Como está sendo a experiência?

Guilherme - Essa experiência está sendo muito instigante - tem o potencial de se tornar uma das melhores da minha vida. Só tenho a agradecer a tanta gente por essa oportunidade que eu nunca nem sonhei em ter de estudar em outro país, com uma cultura bem diferente da nossa - bote diferente nisso, começando pela minha mãe, que tanto se empenhou em colocar meus irmãos e eu num curso de inglês que não era barato (somos trigêmeos, lembre-se!), bem como ao meu pai, que mesmo ausente sempre foi presente na medida do possível, aos meus amigos e amigas pela força, aos professores mais chegados que também acreditaram e deram a maior força nas cartas de recomendação, e, por fim, a Deus, que me fez entrar nesse curso na hora certa, no período certo (eu queria ser 2010.2 para ter 6 meses de férias que nem meu irmão hehehe), caso contrário, eu não teria completado 40% do curso tampouco teria tido 1 ano e meio de boas experiências com a galera do LSD, muito menos, teria vindo para onde agora estou. Agora, é fazer por merecer. Obrigado!!

PET - Sucesso no seu intercâmbio e obrigado pela entrevista (em nome do grupo PET/CC UFCG).

Jornal PETNews - Edição: Jeymisson Oliveira - Revisão: Savyo Igor e Joseana Fechine
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