Lampião: Candeeiro Encantado!


A saga de Lampião no nordeste brasileiro ainda hoje causa controvérsia entre bandidismo ou justiça social.


    Virgulino Ferreira da Silva, terceiro filho da família Ferreira, nasceu na então chamada Vila Bela, onde atualmente concentra a cidade Serra Talhada, no sertão Pernambucano. Menino de infância comum a todas as outras crianças, mostrou-se homem de coragem e determinação para causar impacto ao marasmo e atraso nordestino. De inteligência reconhecida, Virgulino aprendeu a ler e escrever em poucos meses, tempo suficiente para escrever e responder cartas, o que na época poderia ser considerado letrado para a região. Seu pai, José Ferreira, era homem pacato e fazia questão de desarmar seus filhos na porta da frente da casa. Em contrapartida, sua mãe, Maria Lopes, mostrava-se mulher forte, justiceira e realista ao ambiente em que viviam, armava os filhos na porta de trás, afirmando que " Filho seu não era para ser guardado no caritó e não criara filho para ser desmoralizado."

    Virgulino Ferreira, depois conhecido e reconhecido como Lampião, o rei do cangaço, tornou-se bandoleiro no nordeste brasileiro pra subverter a ordem imposta pelas oligarquias nordestinas.Apesar de nunca ter sido um líder de rebeliões, Lampião conseguiu transformar-se num exemplo para um povo pacífico, humilde e muitas vezes subserviente ao sistema imposto.Entretanto, Lampião não foi o primeiro a liderar bandos de cangaceiros, aliás acompanhou por dois anos o Sinhô Pereira a quem teve muito apreço pela lealdade e valentia.

   A saga de Lampião pelo Nordeste buscava mudanças, instigados pelo analfabetismo, pela fome, pela exploração, pela falta de perspectiva de melhoria e acima de tudo, pelo descaso das autoridades. Jorge Amado, em Teresa Batista Cansada de Guerra, brinca com a controvérsia entre bandidismo ou justiça social dos cangaceiros ao relatar um caso defendido pelo advogado dos pobres, Lulu Santos. O advogado ganha a causa, para o então cangaceiro Mãozinha,com a seguinte defesa: "Começou apontando o juiz com o dedo, depois o promotor, os jurados um a um e no fim pôs o dedo no peito apontado para ele mesmo, enquanto isso dizendo com outras palavras,...quem cometeu essas mortes que o promotor atribui a Mãozinha, doutor juiz, foi o senhor, seu promotor, foram os dignos membros do Conselho de Justiça, fui eu, fomos nós todos, a sociedade constituída."

   1917, ano em que Lampião iniciou sua caminhada no cangaço, o mundo vivia na primeira grande guerra e presenciava a revolução russa a qual constituiu um enorme movimento de massas que se rebelaram contra o czarismo.E o sertão nordestino, acendia a lamparina do movimento do cangaço rebelando-se contra as oligarquias e a falta de espectativas da maioria da população.Para alguns, Lampião e seu bando foram bandidos violentos, para outros, o candeeiro acesso no sertão nordestino em busca de justiça social. Sabiamente Jorge Amado traçou o destino do personagem Mãozinha, em Teresa Batista Cansada de Guerra,e o absolveu das acusações ao cometer "crimes" no cangaço. Da mesma forma, Lampião há dois anos foi posto em julgamento e absolvido. O julgamento foi simbólico, mas para os conterrâneos, uma lavagem na alma histórica.

"Ai seu Doutor
Quem matou foi o senhor...
Não foi ele, que só fez atirar
quem matou foi você
foi o juiz e o promotor
quem matou foi a fome,
a injustiça dos homens..."
(trecho do samba cantado pelo personagem Tião em Teresa Batista Cansada de Guerra)

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Por Giselle Regina (ex-bolsista)