Agosto 2003
   

Empreendedorismo
Entrevista realizada com o professor Robert K. Menezes Coordenador do Programa CCT Empreendedor

 

<PETnews> Quando e quais os motivos que levaram o empreendedorismo a ser discutido no meio acadêmico?

<Robert> Veja, a maioria das pessoas imagina que as características empreendedoras do ser humano são inatas e, portanto, apenas uma minoria nasceria com esse talento. A grande maioria estaria destinada ao trabalho assalariado, sem riscos e sem grandes necessidades do exercício da criatividade. Esta visão já está sendo substituída a partir de experiências internacionais bem-sucedidas com a formação de empreendedores. As universidades são os principais atores para realização desta mudança cultural. A universidade é considerada o ponto de partida deste processo, uma vez que é identificada como fonte multiplicadora do saber por excelência. A preocupação com a formação empreendedora é tema prioritário, hoje, em todas as universidades importantes do mundo.
      Alguns estudiosos como Schumpeter iniciaram trabalhos que incorporam o comportamento humano na transformação de contextos econômicos. As grandes mudanças são determinadas pela vontade de inovar dos empreendedores, em exercício de criatividade permanente. O assunto chamou a atenção de outros estudiosos que também pesquisaram sobre o tema.
      A partir da experiência inicial com incubadora de empresas no final da década de 50 nos Estados Unidos, instituições como a Fundação Kauffman, Babson College e London Business School iniciaram estudos sobre as influências de valores sociais e culturais e aspectos da motivação humana para empreender. As instituições de pesquisa começaram a investir na idéia de formar empreendedores e não empresas.
      No Brasil a preocupação com a formação empreendedora surgiu na Universidade Federal de Minas Gerais a partir de 1993, com a introdução da metodologia "Oficina do Empreendedor", desenvolvida pelo Prof. Fernando Dolabela, atendendo demandas urgentes do Programa SOFTEX, na época executando a política governamental de aumento das exportações do software brasileiro.
      Em relação a Campina Grande, a vocação empreendedora da UFCG nasceu em 1996, a partir da instalação de uma base operacional do projeto GENESIS - Geração de Novos Empreendimentos em Software, Informação e Serviços. Na época este projeto também estava associado às ações do Programa SOFTEX. Destaca-se nesse período o trabalho pioneiro da professora Maria de Fátima Camelo do DSC. Desde 1997 a disciplina Empreendedorismo é ministrada na UFCG, o que resultou na formação de mais de quinhentos alunos até o presente período escolar.
      Um grande número de educadores reconhece que o atual sistema de ensino enfatiza a aquisição do conhecimento e não se preocupa com o desenvolvimento de habilidades específicas para o uso produtivo desse conhecimento. Neste sentido, os educadores entendem que as metodologias tradicionais de ensino não enfocam o desenvolvimento da cultura empreendedora. É importante destacar que a educação para o empreendedorismo não pode ser confundida com a educação para gerenciar pequenos negócios. Os empreendedores são gestores de oportunidades e não apenas gestores de recursos.
      A formação empreendedora exige uma nova práxis pedagógica. Evita-se intencionalmente a palavra ensino, porque ainda não existe resposta científica sobre a possibilidade de se ensinar alguém a ser empreendedor. Sabe-se, contudo, que é possível aprender a ser empreendedor. As disciplinas de formação empreendedora devem ser elaboradas a partir do desafio de se introduzir novos conteúdos e novos processos didáticos que superem obstáculos à inovação. Além do mais, as disciplinas devem ter vínculos com o mercado, com a sociedade e com os empreendedores. As experiências acadêmicas devem ser ricas e memoráveis para os alunos.
      O Departamento de Sistemas e Computação oferece duas disciplinas de formação empreendedora: "Empreendedorismo", para todos os alunos do CCT/UFCG, através do Programa CCT Empreendedor, e "Marketing para Informática" para os alunos do Curso de Ciência da Computação, além de alguns cursos de curta duração para os alunos do Programa CCT Empreendedor, em parceria com a Fundação Parque Tecnológico da Paraíba, com diversos temas: Plano de Negócios, Gestão do Conhecimento, Propriedade Intelectual e outros.

<PETnews> Qual (is) o(s) objetivo(s) geral (is) e específico(s) da disciplina de Empreendedorismo?

<Robert>A disciplina "Empreendedorismo" tem sido uma experiência marcante para os alunos. Os objetivos gerais são:

      Difundir a cultura empreendedora no ambiente acadêmico.
      Estimular o comportamento empreendedor na formação do aluno.
      Promover a geração de novos empreendimentos de base tecnológica.
      Enquanto que os objetivos específicos são:

      Contribuir, através de atividades teóricas e práticas para o desenvolvimento da criatividade empreendedora do aluno no ambiente de inovação tecnológica.
Fornecer ferramentas para auto-avaliação e conhecimento de potencialidades pessoais.
      Orientar o aluno na elaboração de seu Plano de Negócios.
      Fornecer ferramentas de planejamento estratégico, mercadologia e finanças.
      Orientar o aluno na criação de empresa pré-incubada.

<PETnews> Qual a importância do "Espírito Empreendedor" para o profissional e em especial para o analista de sistema?

<Robert> Na verdade, estamos diante de um processo comportamental. A importância de se cultivar atitudes construtivas é fundamental para a realização de sonhos e geração de riqueza. Isso é válido para qualquer profissional de qualquer área. Aliás, é conveniente destacar aqui que o conhecimento tecnológico é um aspecto essencial na geração de negócios de base tecnológica, porém, não é o único. Hoje, mais do que nunca, está sendo exigido do profissional o exercício da criatividade e da inovação.
      Portanto, é importante que o analista de sistema também desenvolva suas competências técnicas aliadas às potencialidades de sua vocação empreendedora. Isso envolve autoconhecimento, descoberta de talentos não utilizados, melhor relacionamento com as pessoas, atitude de aprendizado permanente, e capacidade de sonhar, ousar e realizar.

<PETnews> O "empreendedor" está dentro de cada um de nós ou é um dom? Explique!

<Robert> O empreendedorismo é o despertar do indivíduo para o aproveitamento integral de suas potencialidades racionais e intuitivas. É a busca do autoconhecimento em processo de aprendizado permanente, em atitude de abertura para novas experiências e novos paradigmas. Portanto, é uma questão de liberdade individual. Qualquer pessoa pode ativar a motivação para empreender. Assim, podemos encontrar: alunos empreendedores, professores empreendedores, profissionais liberais empreendedores, como também empresários empreendedores.
      Naturalmente que existem diversos graus de empreendedorismo. No Brasil prevalece o empreendedorismo por necessidade, pessoas que precisam sobreviver e procuram uma saída, qualquer que seja. Em alguns países desenvolvidos, os empreendedores orientam-se pelas oportunidades. Naturalmente que uma pessoa que pensa em oportunidades já está em processo mais adiantado de capacitação empreendedora.
      Concluindo, entendo que a capacitação empreendedora faz bem a qualquer pessoa. É uma questão consciente de autoconhecimento, auto-realização, motivação pessoal, iniciativa e vontade de fazer o que se gosta. Portanto, o empreendedor está dentro de cada um de nós.


Por Marcus Vinicius de O. Régis
 
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