Entrevista com Tarciso Oliveira sobre o seu intercâmbio nos EUA.
Por Ana Luiza Motta Gomes
(ana.gomes@ccc.ufcg.edu.br)
Na entrevista deste mês, o graduando Tarciso Oliveira conta mais da sua experiência vivida durante intercâmbio nos EUA pelo Ciência sem Fronteiras, como também revela um pouco mais sobre o reconhecimento recebido pela Universidade da Califórnia pelo seu bom desempenho acadêmico.

Grupo PET - Olá, Tarciso. Primeiramente, conte-nos mais um pouco algumas informações gerais do seu intercâmbio.

Tarciso - Eu saí do Brasil em Janeiro de 2012 e voltei em Janeiro de 2013. Fui selecionado para a University of California - Davis (UC Davis), na cidade de Davis, que fica na região metropolitana da capital do estado: Sacramento. Eu morei junto com outros 8 brasileiros (éramos uma grande família.. hahah) num apartamento com 4 quartos. Preferimos assim, pois já que teríamos que morar fora da universidade (não havia dormitórios para nós), poderíamos economizar no aluguel. Como a cidade era pequena, era um lugar bem tranquilo. A maioria da população era estudante ou trabalhava na universidade, que era a principal atração da cidade. Davis é conhecida como uma das melhores cidades dos EUA para se andar de bicicleta. É quase uma obrigação ter uma lá. É interessante, pois até os professores andam de bicicleta. A maioria das ruas possuem ciclovias e os motoristas respeitam muito os ciclistas. Além disso, a UC Davis é reconhecida nacionalmente como uma das melhores universidades públicas dos EUA, tendo iniciado como o centro de Agricultura da UC Berkeley e, em seguida, conseguido a sua expansão, estando hoje entre as 50 melhores universidades do mundo.

Grupo PET - Qual foi o significado para você do reconhecimento recebido pela UC Davis?

Tarciso - Foi muito importante para mim receber tal reconhecimento, pois mostra que nós brasileiros temos capacidade de estudar e nos destacarmos mesmo até nos níveis mais altos da educação mundial. O programa Ciência Sem Fronteiras foi reconhecido pelo bom desempenho dos alunos brasileiros na UC Davis, alguns como eu tendo recebido um Certificado de Excelência Acadêmica, por possuir um alto GPA (CRE). Isso vem como um grande incentivo para mim, me fazendo estudar e trabalhar cada vez mais para ajudar a desenvolver a educação e a tecnologia no nosso país.

Grupo PET - Na sua opinião, qual é a maior diferença entre as universidades dos EUA e as do Brasil?

Tarciso - Acredito que uma grande diferença é a maneira de pensar e de se ver que os estudantes têm. Na verdade, isso é algo da cultura dos EUA, não apenas da universidade. Eles acreditam muito no potencial das pessoas. Vi muitos estudantes falando com propriedade em sala de aula, como se fossem experts no assunto, e os professores os valorizavam muito, acreditando no potencial de cada um. Eles não vêem nada como sendo impossível, porém acreditam em si mesmos e vão em frente. Aprendi com um professor de redação lá que não se deve escrever "problem", e sim "challenge", pois é assim que eles vêem as dificuldades: como um desafio a ser vencido. No Brasil, muitas vezes sinto a falta disso. Muitos professores parecem não acreditar tanto nos alunos até que os vejam fazendo algo extraordinário, e até mesmo os próprios estudantes não acreditam em si mesmos, e muitas vezes desistem facilmente frente aos desafios. Creio que pensar da primeira forma favorece o surgimento de grandes gênios como Steve Jobs, Bill Gates, Larry Page e Sergey Brin, dentre outros, todos advindos das universidades americanas.

Grupo PET - Qual foi a parte mais difícil do processo de readaptação ao Brasil?

Tarciso - Pra mim houve três coisas bem complicadas: A saudade dos amigos que fiz lá, afinal morei 1 ano com brasileiros de várias regiões do Brasil e fiz muitos amigos brasileiros, americanos e de várias partes do mundo em várias organizações que participei na universidade e na cidade, porém tenho tentado manter as amizades conversando pelo skype, facebook, e-mail, etc. A qualidade de vida, que era bem diferente. Infelizmente, no nosso país ainda não se pode sair com uma câmera ou um celular caro falando no meio da rua, pois você corre um grande risco de ser roubado, não se anda na rua tarde da noite; O poder de consumo... hahahah. Lá muitas coisas são mais baratas, principalmente eletrônicos e roupas. Eu morava bem perto de um complexo de roupas conhecido como Outlet, onde comprava roupas de marcas que aqui são caríssimas por um preço bem mais acessível.

Grupo PET - Foi possível aproveitar na UFCG os créditos das disciplinas cursadas na UC Davis?

Tarciso - Ainda não entrei com processo pois ainda não recebi meu histórico de lá. Já falei com a coordenação do curso e fui informado que terei que falar com o professor de cada disciplina especifica, porém creio que a Acessoria Internacional da UFCG vai auxiliar os alunos, pois era uma exigência do programa que as universidades participantes aproveitassem os créditos cursados pelos estudantes fora do Brasil.

Grupo PET - Como era a sua relação com os professores e com os alunos nativos?

Tarciso - Desenvolvi um bom relacionamento com ambos. Sempre gostava de falar com os professores ao final das aulas. E com os alunos, consegui me entrosar bem. A UC Davis, assim como várias universidades americanas, é uma universidade muito internacional. Eu fiz amigos de várias nacionalidades, como China, Índia, Rússia, Colômbia, Itália, etc. Os professores sempre falavam de algum brasileiro que se destacava na sua área. Todos lá gostam de brasileiros. Eles pensam que todos moramos no Rio de Janeiro, somos craques de futebol e falamos espanhol... hahaha.

Grupo PET - Você tem planos para voltar aos EUA para trabalhar, estagiar ou até mesmo fazer pós-graduação?

Tarciso - Eu sempre pensei nisso, e uma vez que eu já fui lá, isso se torna uma possibilidade bem mais real, pois ficou o contato com alguns professores de lá, que me incentivaram a voltar para um mestrado ou doutorado. Não sei quanto a trabalhar e morar permanentemente, pois gosto muito do estilo de vida e da cultura do Brasil, porém tenho pensado numa pós-graduação, ainda mais porque o Ciência Sem Fronteiras também oferece bolsas de pós-graduação integrais e sanduíche.

Grupo PET - Você se envolveu com algum tipo de pesquisa na universidade? Se sim, qual a principal área envolvida e o que era diferente da sua pesquisa na UFCG?

Tarciso - Sim. Fiz pesquisa com o professor Vladimir Filkov na área de Análise de Redes Sociais de Colaboração Científica, analisando as interações entre autores em suas publicações. Para tanto, utilizamos um grande banco de dados de publicações científicas, minerando os dados para perceber os padrões de comportamento dos autores. Isso foi algo totalmente novo pra mim, pois sempre trabalhei na parte de desenvolvimento de software no LSD, na equipe do OurGrid, nunca havendo trabalhado com pesquisa.

Grupo PET - Qual foi o maior aprendizado que você adquiriu, considerando coisas pessoais e profissionais?

Tarciso - Creio que o maior aprendizado foi viver por conta própria, sem depender dos pais, resolver meus próprios problemas, numa cultura completamente diferente, com pessoas que pensam de forma diferente. Quando você mora fora de casa no Brasil, todo feriado (e nós temos muitos, bem mais que nos EUA), você volta pra casa, vê seus pais e amigos, come a comida da sua mãe, etc; mas quando você mora fora do país, não dá pra fazer isso. Tem horas que você quer voltar, e é preciso ser forte e ter perseverança para poder ir até o fim. Com tudo isso, aprendi a valorizar mais minha família e amigos aqui, e fiz também boas amizades lá que creio durarão a vida inteira, e todas essas pessoas foram imprescindíveis na minha vida durante o ano que se passou.

Grupo PET - Tarciso, muito obrigado pela entrevista. O Grupo PET Computação lhe parabeniza pelo reconhecimento recebido de uma das melhores universidades dos EUA e deseja muito sucesso na sua trajetória.

Tarciso - Eu é que agradeço a oportunidade e também agradeço a todos da UFCG que me incentivaram e me apoiaram durante esse tempo: desde a coordenação, passando pelos professores até meus colegas de curso e de período, e incentivo a todos a se inscreverem no programa, pois foi uma experiência que realmente marcou a minha vida e creio que marcará a de quem for também

Jornal PETNews - Edição: Jessika Renally - Revisão: Tiaraju Smaneoto e Lívia Sampaio
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