Personalidades Culturais: Lourdes Ramalho.
Conheça um pouco da vida e da obra dessa Dramaturga que fez história!

A seção de cultura deste jornal inicia este mês uma série contando um pouco da vida e da obra de grande paraibanos (nascidos ou de coração) que foram relevantes no cenário nacional, na literatura, no teatro, na música, no cinema, na pintura, etc.

Para iniciar esta série, a escolhida foi Lourdes Ramalho. Maria de Lourdes Nunes Ramalho nasceu em 1923 na cidade de Jardim do Seridó, divisa entre Rio Grande do Norte e Paraíba. Na infância, recebeu a educação sertaneja em meio a uma família de artistas e educadores. O seu bisavô era violeiro e repentista, a sua mãe professora e dramaturga, além de vários tios atores, cordelistas e violeiros. Desde cedo,  estava cercada de cultura nordestina e poesia popular que são tão vistas em suas obras.

Incentivada pela família, Lourdes começou a escrever peças muito cedo, por volta dos 10, 12 anos. Brincar de teatro era sua diversão favorita. Ela colocava no papel as falas e ações dos personagens, que ganhavam vida nas pessoas da família ou nos amigos da escola. Aos 16 anos, estudando num colégio interno em Recife,

 

Lourdes escreveu seu primeiro texto, retratando a falta de professores qualificados, a má qualidade da alimentação e as formas abusivas de educação, em uma comédia que foi apresentada por ela mesmo na festa de encerramento do ano letivo, o que causou um embate entre pais e professores, resultando na expulsão da menina.

Lourdes se casa em 1943, e, para acompanhar o marido, reside em várias cidades do interior nordestino, deixando de lado um pouco da vida de atriz, mas sempre trabalhando como dramaturga e diretora.

No Pós Guerra em Recife, surge um grupo de atores, intelectuais e poetas que tenta redemocratizar o teatro. Tendo um vínculo muito forte com as tradições nordestinas, os integrantes desse grupo, dentre eles Hermílio Borba Filho e Ariano Suassuna, buscam renovar a cena teatral local. Esse grupo se mobiliza para escrever e levar aos palcos textos que mostrassem a cara e a cultura do povo nordestino. Era o povo vendo experiências, conflitos, sonhos do seu próprio povo. Tal grupo foi batizado de Teatro Popular do Nordeste. Seu trabalho era recriar as narrativas e os “causos” do imaginário popular para que a população reconhecesse a sua cultura no palco.

A proposta do Teatro Popular do Nordeste começa a servir de base para outros grupos teatrais, e dentre os nomes destacados está o de Lourdes Ramalho que já vinha fazendo esse tipo de resgate e encenação do povo nordestino.

Entre 1964 e 1966, Lourdes se muda para o Rio de Janeiro onde faz parte da Sociedade Brasileira da Educação através da Arte (SOBREART), assistindo aulas de teatro n’O Tablado de Maria Clara Machado. De volta a Paraíba, abre uma seção da SOBREART, na qual assume a presidência e coordena as atividades do grupo teatral vinculado à associação. São deste período O príncipe valente, O pequeno herói e Ingrato é o céu. Em 1974, escreve Fogo-Fátuo, encenado pelo Grupo Cênico Manuel Bandeira, da Fundação Artístico-Cultural Manuel Bandeira (FACMA), apresentado no I Festival Nacional de Teatro, FENAT, em Campina Grande e funda, informalmente, o Centro Cultural Paschoal Carlos Magno, hoje Centro Cultural Lourdes Ramalho.

Depois de Fogo-Fátuo, escreve As Velhas, A Feira, Os mau-amados, A festa do Rosário, A madrasta, A Eleição, O Arco-íris, Uma mulher dama, O psicanalista, dentre tantas outras peças, que são montadas por grupos em diferentes lugares no Brasil e até mesmo no exterior.

 
Lourdes Ramalho durante uma pausa nos ensaios d'As Velhas

Com tantos trabalhos, Lourdes foi reconhecida nacional e internacionalmente. Só para citar os prêmios da peça As Velhas: ganhou em 1975 o primeiro lugar no III Festival da Federação Nacional de Teatro Amador, em Ponta Grossa-PR ganhando também os prêmios de Melhor Atriz e Melhor Partitura Musical; premiado pelo Serviço Nacional do Teatro em 1976; Melhor espetáculo no XII FITEI – Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica em Portugal no ano de 1990; Prêmios de Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Ator Coadjuvante e Destaque em Dramaturgia no V Festival Nacional de Arte da Paraíba; Prêmios de Melhor Espetáculo e Melhor Figurino no VIII Festival Nacional de Teatro de Anápolis-GO, Prêmios de Melhor Texto Original, Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Direção no V Festival de Teatro Nordestino de Guaramiranga-CE.

Passaria muito tempo mais falando da vida de Lourdes. Para mais detalhes, acesse: www.lourdesramalho.com.br e conheça ainda mais a importância dessa grande dramaturga reconhecida no Brasil, em Portugal e na Espanha e que tem seu lugar entre os grandes nomes do teatro brasileiro, sendo uma das expressões mais significativas da dramaturgia contemporânea de autoria feminina.

Saulo Henrique L. de Medeiros