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O importante é competir |
Uma disputa vale mais que mil vitórias fáceis. |
No esporte, o que vale é competir. Esta máxima é muitas vezes entendida como uma consolação para os perdedores. Afinal, se o que vale é competir, porque existe um pódio com degraus para os vencedores, e não um grande palco, plano, que coubesse todos os atletas? O que vale, aparentemente, é somente a vitória. É facilmente constatável que a vitória, sem disputa, não tem o menor valor. Enfrentar uma criança e vencê-la várias vezes seguidas é algo extremamente fácil, e extremamente chato (e perigoso, visto que as crianças geralmente tornam-se feras nestas ocasiões). Muito mais divertido é perder para ela, e ver que mesmo facilitando, ela teve um esforço para vencer, e foi recompensada. Outro exemplo bastante corriqueiro é o futebol, conhecido por ser uma "caixinha de surpresas". Se o resultado de uma partida fosse conhecido antes dela acontecer (assim, antes dos jogadores suarem a camisa em busca do gol), não haveria mais que meia dúzia de torcedores no estádio, que por si só competem para ver quem faz a maior festa e chama mais palavrões. ![]() Lei de Gérson
A vitória é uma recompensa. O fato é que a competição vale tanto, que alguém que age bem antes, durante os treinamentos, e durante a competição, merece ser recompensado. Quem não leva a sério a competição, somente a vitória, está propenso a se tornar frustrado, pois a quantidade de vencedores (muitas vezes só um) é geralmente, bem menor que a quantidade de derrotados (todos os outros), assim, a probabilidade de perder, e no caso desta pessoa, se decepcionar, é bem maior. Está propenso também a fraudar, a vencer seus concorrentes da mesma forma que se vence uma criança. Este é o problema de se seguir a Lei de Gérson. A competição, porém, não é privilégio do esporte. Os não esportistas também competem todos os dias. As vitórias podem ser uma vaga de emprego, um diploma, uma conquista amorosa. E a maioria leva tão a sério as conquistas pessoais que acaba esquecendo o meio pelos quais elas deveriam ser obtidas. É a propina ao guarda, a "cola" durante a prova, o desrespeito à fila do idoso. Momentos em que são dados os "dribles de burocracia", a corrupção, um dos problemas mais visíveis do Brasil. Como se faz para que uma competição tenha suas regras seguidas? Primeiro, garantir que todos os competidores tenham acesso às regras, e segundo, que eles tenham a certeza, ou pelo menos uma grande sensação, de que serão punidos caso descumpram as regras. No cotidiano, isso significa educação e fiscalização. Este é o meio para que a vida em sociedade, a competição que todos enfrentam no aguardo da recompensa, seja mais justa e assim, mais prazerosa. |
Por Diogo Anderson (diogo@dsc.ufcg.edu.br) |