Mulheres no curso.
Março é o mês dedicado às mulheres. No PETNews desse mês, faremos uma reflexão de como a mulher se apresenta em nosso curso e também tentaremos entender porque a quantidade de alunas é tão pequena em Ciência da Computação.

De acordo com dados do Ministério da Educação e Cultura, o percentual de alunas nos cursos de graduação em Ciência da Computação há 15 anos era 30%. Hoje, temos menos de 10%. Na turma 2009.1 do nosso curso, podemos encontrar 16 meninas dentre cerca de 70 alunos.

Apesar de em pequeno número nas aulas, as meninas não se sentem desconfortáveis em um cenário predominantemente ocupado por homens.

Qual o motivo para poucas mulheres prestarem vestibular para Ciência da Computação? Alguns pesquisadores acreditam que as pré-vestibulandas pensam que essa é uma profissão solitária, voltada às pessoas que se interessam por máquinas, levando a pouco contato humano.

James Welle e Annie Fish, pesquisadores norte-americanos, realizaram diversos estudos sobre a relação das mulheres com a Computação e concluíram que elas gostam mais de visualizar o todo levando em consideração as partes e suas inter-relações e interesses, e por isso são guiadas por uma visão de conjunto.

Durante o nosso curso, podemos ver que esta visão de profissão com pouco contato humano e solitária é completamente errada, pois a nossa área é muito ampla e multidisciplinar, estando presente em várias outras áreas como na saúde e no direito, tornando o trabalho em equipe essencial.

No meio científico, a participação feminina sempre enfrentou alguns problemas. Características muito presentes nas mulheres são desvalorizadas como a subjetividade, cooperação, sentimento e empatia, segundo Schiebinger, historiadora especialista em pesquisas em relacionamento entre gêneros e ciência. A historiadora julga que estas características fazem a pesquisa ficar "menos científica". Ainda temos muitos homens machistas que pensam que a mulher não tem capacidade para realizar pesquisas relevantes e "sérias".

O filósofo Kant ensinava, entre outras coisas, que uma pessoa envolvida em atividade intelectual importante deveria ter barba. Porém, a história desmente este ensinamento, uma vez que muitas mulheres vêm desenvolvendo pesquisas relevantes nas diversas áreas das ciências, incluído a Computação.

Em Introdução à Computação, conhecemos a primeira programadora da história, Ada Lovelace que escreveu um programa que poderia utilizar a máquina analítica de Charles Babbage. Conhecemos também Grace Murray Hopper, que criou a expressão “bug” para problemas no computador, dirigiu o grupo que inventou o primeiro compilador e, também criou a linguagem de programação FLOW-MATIC, linguagem extinta, mas que serviu como base para a criação do COBOL.

Poucos sabem que os três times de programadores da primeira versão do ENIAC (Eletronic Numerical Interpreter and Calculator) eram compostos exclusivamente por mulheres, e também são poucos os que conhecem mulheres como Rosa Peter, que idealizou a teoria de funções recursivas.

No Brasil, temos o exemplo de Cláudia Bauzer Medeiros, primeira presidente mulher da Sociedade Brasileira de Computação (SBC), que permaneceu no posto durante o período de 2003 a 2007, por dois mandatos. Cláudia Bauzer recebeu o prêmio Anita Borg Institute for women and technology award, 2006 “como uma das três mulheres que mais se destacaram mundialmente, fora dos Estados Unidos, pela contribuição prestada no desenvolvimento de pesquisa científica e pela atuação política em favor da inserção da mulher na Computação.”.

No nosso curso, temos os exemplos das professoras Francilene Garcia, Joseluce Cunha, Joseana Fechine, Patrícia Machado e Raquel Lopes, excelentes profissionais que servem como modelo para a graduação. Não podemos esquecer de Fatinha também, que é nossa “advogada” na graduação na função de secretária do nosso curso, além de Josenilda, secretária do DSC, e Aninha e Vera, secretárias da COPIN.

Devemos nos esforçar para mudar a pequena participação da mulher no nosso curso. Para isso, se faz necessário informar às estudantes, no ensino médio e até no ensino fundamental II, sobre a realidade do curso de Ciência da Computação e incentivar as meninas que já o cursam a observar o fato de que a mulher tem espaço nesta área, podendo concorrer igualmente com os homens no mercado de trabalho.

Por Márcio Saraiva
(marcio@dsc.ufcg.edu.br)