Metacrônica
Uma crônica por ela mesma.

– Olá! Eu sou uma crônica. Você deve ter notado pela seção em que me encontro. Faz parte da natureza de uma crônica estar em uma publicação periódica. O meu autor fez-me dotada de plena consciência de mim mesma, o que muito me satisfaz. Ele tem um propósito em fazer-me desse modo...

– Claro! Toda crônica tem o intuito de entreter o leitor, em diferentes gamas, dada sua natureza particular e o estado de espírito do cronista, mas no geral é isso mesmo. Outra coisa é que meu autor já tem há algum tempo a idéia de fazer uma homenagem a outro cronista desse periódico, o sujeito pra quem esse texto é dedicado, para isso ele resolveu escrever-me dotada de voz, pelo menos de modo figurativo, e de auto-conhecimento.

– Sobre a homenagem, vocês já devem ter lido algo parecido em outro PETNews, mais especificamente, agora que meu autor foi verificar, em julho de 2006. Era uma crônica sobre como fazer crônicas sem inspiração, mas sou algo diferente... Aí está meu autor tentando defender sua originalidade... Trabalho vão... Apesar de algumas pessoas não gostarem desse tipo de crônica, espero ser boa o suficiente para não ofender ninguém. Certo, Edigley?

– A outra coisa que sei que tenho de falar, metaforicamente novamente, é sobre a natureza das crônicas. Existem vários tipos de crônicas que agradam a públicos diferentes. Existem crônicas narrativas, que podem ser cômicas ou dramáticas, existem crônicas dissertativas em que o autor expressa sua opinião. Uma coisa geral sobre as crônicas é que elas são literatura de jornal... E isso já causa uma controvérsia... Os literatos, e olha que o editor de texto diz que essa palavra existe, acham que ela é um subgênero, não merece ser chamada de literatura. Esse parágrafo está ficando grande vou continuar no próximo...

– Bom... Voltando: crônicas têm a natureza temporal dos jornais... Ninguém lê jornal da semana passada procurando por novidades... É certo que as crônicas de hoje estarão forrando as lixeiras de amanhã. Nem mesmo eu, que sou uma versão digital, escaparei de ser ultrapassada e descartada para o entulho – metaforicamente, é claro – das edições anteriores.

– A temporalidade das crônicas é fatídica. Enquanto outros tipos de texto, como por exemplo, meus primos contos, que meu autor adora escrever e não poderia deixar de me fazer comentar isso, tentam se isolar da transitoriedade, nós crônicas somos (puxa que frase grande, parece, até, tirada de um livro de Caetano Veloso) fadadas pelo tempo. Os contos por vezes despistam o tempo, fator fundamental e natural num texto, com dribles como, “numa tarde ensolarada”, “numa noite quente”, “naquela terça-feira chuvosa”, nós estamos fadadas a trechos como, “semana passada”. Semana que vem, “semana passada” já vai ser a semana errada.

– Bom... E já que pode ser escrita de tantos modos diferentes, como é que você vai saber que está lendo uma crônica? Não o editorial, ou uma coluna? Realmente a dica que dou é que procure no cabeçalho a palavra “crônica”. Porque um sujeito pode estar simplesmente falando mal da vida, reclamando do presidente, tirando uma com o próprio trabalho, e por conseqüência com seu editor, pode estar contando uma história, coisa que meu autor adora fazer e por isso não está tendo dificuldades em me botar pra falar apesar de não ter tanta coisa útil pra falar... Em resumo: uma crônica é um texto feito por um cronista na seção de crônica de um periódico. Como estou em um periódico, na seção crônica – assim espero – cumpri dois dos requisitos, já que meu autor gosta de dizer que é um contista (vê se pode...). Por isso sou uma feliz e satisfeita crônica por vocês terem me lido até o final.

Por Théo Alves