100 anos de Frevo
O ritmo contagiante vindo de Pernambuco completa um século de existência nas vidas dos brasileiros

Apesar de já existir na vida das pessoas que brincavam carnaval no século XIX, a primeira ocorrência da palavra "Frevo" foi feita no Jornal Pequeno, jornal recifense, no dia 9 de fevereiro de 1907, a qual citava um ensaio do Clube Empalhadores do Feitosa. Nela dizia: "Empalhadores do Feitosa, em sua sede que se acha com uma ornamentação belíssima, fez ontem esse apreciado clube o seu ensaio geral, saindo após em uma bonita passeata, a fim de buscar o seu estandarte que se acha em casa do Sr. Alfredo Bezerra, sócio emérito do referido clube. O seu repertório é o seguinte: Marchas – Priminha, Empalhadores, Delícias, Amorosa, O Frevo, O Sol, Dois Pensamentos e Luiz do Monte, José de Lyra, Imprensa e Honorários; Ária – José da Luz; Tango – Pimentão. Agradecemos o convite que nos foi enviado para o 2º dia de carnaval". Uma das músicas do repertório chamava-se O Frevo. Mas a palavra é uma expressão popular mais antiga e vem de ferver e, no linguajar popular, “frever”, sinônimo de festa quente, animada. Dizem que quem lançou o vocábulo foi o escritor Osvaldo de Almeida. A marcha pernambucana, como foi inicialmente chamada, nasceu do dobrado entoado pelas bandas militares. As bandas das corporações militares acompanhavam as agremiações carnavalescas e os clubes pedestres, que posteriormente foram chamados clubes de rua. À frente das agremiações, vinham os capoeiras que, ao longo do tempo, foram desenvolvendo com o ritmo das marchas os passos do frevo. A execução da capoeira era proibida no país naquela época, mas em Pernambuco, alguns só faziam vista grossa, talvez por isso o passo e a música tenham se consolidado nos Carnavais do Recife. No Rio de Janeiro a ordem foi obedecida, e por isso adotou-se lá um carnaval mais europeu. Já no Recife a proibição foi driblada com a fundação de clubes carnavalescos.


Montagem com dançarinos de várias épocas, troças de frevo e o mestre Capiba.

A partir daí essa marcha de rua, que era chamada marcha de frevo, ficou conhecida como frevo-de-rua e se desdobrou em vários outros ritmos, como o frevo-canção, que foi a inserção de letras nas músicas. Compositores como Capiba e Nelson Ferreira criaram belíssimas composições deste gênero, que são tocadas até hoje nos carnavais. Já o frevo-de-bloco, teve início a partir de 1915 com o surgimento de blocos como: Apois fum!, Bloco das Flores, Batutas da Boa Vista (1920), Madeiras do Rosarinho e Inocentes do Rosarinho (ambos em 1926) e Batutas de São José (1932). Essa denominação do frevo veio das pessoas que curtiam serenatas e vinham também às ruas nos dias de carnaval, por isso suas canções não se parecem muito com os outros tipos de frevo, pois são feitas sem nenhum tipo de metal, só instrumentos de pau e corda.

Dentre os artistas mais famosos, começando pelos compositores, podemos iniciar falando sobre o já citado, Capiba. Ele nasceu no interior de Pernambuco, na cidade de Surubim. Viveu e respirou música desde a infância. Seu primeiro grande sucesso nacional foi a canção Maria Betânia, gravada por Nelson Gonçalves, em 1945. Dentre as várias composições podemos citar Cala a boca menino, Madeira que cupim não rói e Oh! Bela, frevos imortalizados no Carnaval pernambucano. Capiba faleceu no ano de 1997 deixando um vasto repertório de frevos e estima-se que ainda existam centenas de composições inéditas. Outro compositor muito famoso é Nelson Ferreira, considerado um dos mais importantes compositores da Música Popular Brasileira. Suas evocações são muito belas. A primeira delas, intitulada simplesmente de Evocação, foi sucesso nacional, sendo a música mais tocada no carnaval carioca da época. Dentre os maestros podemos citar o maestro Duda, que é hoje é um dos maiores regentes, compositores, arranjadores e instrumentistas de Pernambuco, e o maestro Spok que representa a nova geração de maestros, ficando famoso por adicionar novos arranjos às composições originais de frevo. Dentre os intérpretes, o mais respeitado é Claudionor Germano, pois foi escolhido por nada mais nada menos que Capiba e Nelson Ferreira como principal intérprete de suas músicas. Dentre outros artistas que carregam a bandeira do frevo nos seus trabalhos podemos citar Antônio Carlos Nóbrega, Alceu Valença, André Rio, dentre outros.

No dia 9 de fevereiro, as cidades de Recife e Olinda acordaram ao som dos clarins das orquestras de frevo para comemorar o centenário do seu ritmo filho. Em Olinda, uma orquestra com centenas de músicos saiu do Alto da Sé até a sede da Prefeitura da cidade, seguida pelos seus já famosos bonecos gigantes e um cortejo de pessoas que dançavam ao ritmo "efrervecente". Em Recife, vários bairros tiveram orquestras e blocos carnavalescos que se encontraram no Pátio de São Pedro para seguir com um arrastão de frevo. Foi uma festa belíssima. Além disso, o frevo ainda pode ser presenteado com o título de patrimônio imaterial do Brasil. O Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) está analisando a documentação para este feito. Portanto, quem quiser comemorar este centenário ainda está em tempo, pois a festa terá continuidade até o final do carnaval. As ladeiras de Olinda prometem “frever” os pés dos foliões este ano.

Por Lucas Albertins de Lima