Entrevista com Renato Miceli
Em Dezembro, o Grupo PET Computação entrevista um formando do curso, Renato Miceli, que há pouco tempo fez um estágio na Irlanda.
Renato Miceli na Irlanda

Grupo PET - Boa noite, Renato. Você é natural de onde?

Renato - Opa, boa noite, Arthur. Eu nasci em Fortaleza, no Ceará, mas vivi boa parte da vida em João Pessoa. Foi lá onde terminei meu ensino médio antes de vir pra Campina Grande.

Grupo PET - Qual a sua idade?

Renato - Eu tenho 21 anos.

Grupo PET - Em que período você ingressou na universidade?

Renato - Sou de 2006.1, que naquela época começou só em junho (risos). Estou no meu décimo período, enfim terminando o curso.

Grupo PET - Como surgiu a oportunidade de estágio na Irlanda?

Renato - Pode parecer estranho, mas veio por email. O anúncio da seleção foi postado em uma das listas de discussão sobre Sistemas Distribuídos da qual participo. Nem pensei duas vezes em tentar!

Grupo PET - Como funcionou o processo seletivo?

Renato - A seleção era aberta a todos os alunos de graduação de todo o mundo. Os alunos selecionados participariam de projetos nas áreas de Computação de Alto Desempenho e Ciência Computacional, orientados por um profissional do ICHEC (Irish Centre for High-End Computing) em Dublin ou Galway, na Irlanda. A inscrição foi toda pela Internet. Pra me inscrever, tive que enviar meu currículo em formato eletrônico, inclusive com histórico escolar completo, além dos nomes e informações de contato de pelo menos duas referências. Também tive que apontar minhas preferências de projeto, da lista disponível na página da seleção, indicando minha adequação e motivação em participar de cada um. Daí em diante, o processo seletivo procedeu internamente. Só fiquei sabendo do resultado quando recebi um email comunicando que eu havia sido aprovado.

Grupo PET - Em que área da computação você trabalhou enquanto estagiava?

Renato - Eu trabalhei nas áreas de Matemática Computacional, Processamento Paralelo e GPGPU Computing, aplicados ao contexto da Criptografia. Em mais detalhes, eu estudei e avaliei um algoritmo de fatoração de números inteiros grandes na arquitetura CUDA, desenvolvida pela NVIDIA pra rodar nas suas GPUs, com o objetivo de classificar a segurança da informação de acordo com a eficiência do algoritmo. Tive o apoio de profissionais bem experientes no assunto pra desenvolver meu projeto. Uma prova disso é que o ICHEC é um dos 7 únicos NVIDIA Cuda Research Center do mundo, o que significa que a NVIDIA reconhece as atividades de ponta conduzidas no Centro que usam a arquitetura CUDA. Além disso, meu trabalho foi bastante multidisciplinar, com uma base matemática muito forte. Eu pude ver na prática como se emprega a Computação nas diferentes áreas do conhecimento como uma ciência-meio, e não ciência-fim. Foi a primeira vez que usei a Computação pra tentar resolver um problema que não foi criado pela própria Computação.

Grupo PET - Quanto tempo durou o estágio?

Renato - O estágio foi bem curto, só 2 meses e meio. Foi um estágio de verão, bem comum na Europa e nos Estados Unidos (a maioria das grandes empresas de Computação tem). Mas, como as férias do verão europeu não casam com o nosso recesso escolar de inverno, tive que dar meus pulos pra conseguir me liberar (risos). Antecipei muitas provas e projetos pra conseguir ir, e também cheguei atrasado pro outro período. Mas valeu a pena!

Grupo PET - E a questão da moradia, alimentação, transporte...?

Renato - Bem, o Centro custeou a maioria das minhas despesas. Eles pagaram minha passagem de avião de ida e volta, a minha hospedagem, e eu ainda recebi uma bolsa de estudos pra cobrir os custos de alimentação e transporte (e das festas). Transporte bem menos que alimentação, porque Dublin é uma capital, mas parece cidade de interior (risos). Dá pra se virar a pé, sem precisar de transporte público. Algumas vezes tive que pegar ônibus ou bonde elétrico (tramway), mas foram poucas vezes mesmo. A comida que é bem cara por lá, mas deu pra me virar sem problemas.

Grupo PET - Como se adaptou ao idioma?

Renato - Na Irlanda todo mundo fala inglês. Além do inglês, o gaelic (irlandês) também é idioma oficial, mas quase ninguém fala. Tem só umas comunidades isoladas no interior do país, umas vilas pequenas e tal. Os irlandeses aprendem gaelic na escola, mas não usam no dia-a-dia. As placas e o áudio no tramway são todos bilíngues. Eu já falava inglês antes de ir, e tinha que falar, porque era um pré-requisito da seleção, daí o impacto do idioma não foi muito grande.

Grupo PET - Conte-nos um pouco sobre sua experiência fora do Brasil!

Renato - Ir pro exterior é conhecer outra realidade. São outras pessoas, outra cultura, outro clima. É uma coisa que, tipo, abre a cabeça, te mostra coisas que só via na TV. Além do que a Irlanda é um país massa. No interior só tem aqueles campos verdes imensos. Me senti naquelas cenas do Senhor dos Anéis. As cidades de interior pacatas parecem cidades cenográficas, de tão arrumadas que são. E Dublin tem aquele ar de "velho novo", com construções antigas do lado de arquitetura moderna. E, na época de verão, muitos estudantes europeus vão pros países de língua inglesa pra aprender o idioma, então eu conheci muitos espanhóis e franceses, fora americanos, canadenses, ingleses, gregos, italianos, chineses, e até um tcheco e um esloveno. Mas muitos espanhóis mesmo. Imagine a arruaça quando a Espanha ganhou a Copa do Mundo. (risos)

Grupo PET - Surgiu alguma proposta de emprego após o estágio?

Renato - Surgiu sim. Ainda estamos em fase de negociações, mas tudo indica que estarei de volta a Dublin já no início do próximo ano!

Grupo PET - Você trabalha no LSD (Laboratório de Sistemas Distribuídos). Tem alguma preferência pela área de Sistemas Distribuídos?

Renato - A Computação é uma área tão grande, com tantos tópicos de trabalho... E eu gosto muito dessa área, daí fica difícil dizer o que vou fazer no futuro. Eu gosto de Sistemas Distribuídos, mas também gosto da Teoria da Computação e de Engenharia de Software. E agora no meu estágio estive em contato com outros tópicos interessantes da área. Vamos ver aonde o futuro vai nos levar.

Grupo PET - Quer deixar alguma mensagem para os alunos?

Renato - Ah, com certeza. Procurem participar de estágios, aqui e no exterior. As empresas estão sempre em busca de profissionais qualificados, é só procurar. Nosso curso é muito bom, os alunos são excelentes. Todos nós tivemos a mesma formação. Se eu consegui, vocês também podem. É só procurar. Todo ano, durante o meio do ano, as empresas abrem vagas pra estágio de verão. Se inscrevam sem medo, porque nós temos condições. E vamos representar o CCC, a UFCG e o Brasil ao mundo.

Grupo PET - O Grupo PET agradece e deseja muito sucesso. Obrigado!

Renato - Eu que agradeço. Muito sucesso a todos!

Por Arthur Freire
(arthursfreire@gmail.com)