Personalidades Culturais III: Marinês
Neste mês, a sessão cultura dedica homenagem à Rainha do Xaxado

Em 1936, na pequena cidade do interior de Pernambuco, São Vicente Ferrer, nasceu Maria Inês Caetano de Oliveira, filha do ex-cangaçeiro do bando de Lampião, Manoel Caetano de Oliveira e de Josefa Maria de Oliveira, que seria a dona da mais bela e cristalina voz que encantaria a todos com as músicas nordestinas.

Aos quatro anos de idade, muda-se com a família para a cidade de Campina Grande, onde viveria a infância, a mocidade, o início da carreira e a união com o sanfoneiro Abdias.

Luiz Gonzaga foi o ícone no qual Marinês se espelhou, e que tanto se encantava com as músicas do Rei do Baião tocadas nos auto-falantes das difusoras nos postes da cidade. A primeira vez que viu “seu Luiz” foi em 1950 num comício do candidato a governador do estado Agemiro de Figueiredo. Nesse mesmo ano, Marinês ingressa no Colégio das Damas. Porém, saiu do colégio no mesmo ano por falta de dinheiro para pagar as mensalidades. Contudo, não baixou a cabeça, sabendo de todo seu potencial, ingressou na rádio “A Voz da Democracia” situada no bairro da Liberdade.

Num programa de calouros da rádio, ganhou seu primeiro prêmio. Foi eleita pelas palmas do público e ganhou um sabonete eucalol. Era o início de uma grande carreira.

Logo, assumiu o trabalho de locutora na rádio. Mudou-se para a rádio “A voz de Campina Grande” e depois passou para os programas de auditório da Rádio Borborema em 1952. No mesmo ano, a rádio contratou o sanfoneiro Abdias Farias, com quem começa a namorar após Abdias pedir permissão aos pais da moça. Dois anos depois, eles se casam numa cerimônia simples apenas para familiares e amigos.

Marinês e Abdias rescindiram o contrato com a Rádio Borborema e começaram a fazer shows pelo interior do país. Em Fortaleza, ao trabalharem na rádio Iracema, onde as condições empregatícias eram melhores, conheceram o zabumbeiro Cacau, que tinha tocado com Luiz Gonzaga. Assim, seria Cacau o terceiro elemento do grupo.

Com repertório afiado, “zarparam na  lapa do mundo”, tocavam em bibocas, cinemas,  circos,  alugavam armazéns e iam disseminando o  novo  ritmo  criado por Gonzaga. Este,  por sua vez, ia tendo notícia aqui  e ali de um trio que tocava suas músicas:  "a moça é uma Gonzaga de saias", diziam.

O primeiro encontro com “Lula” foi em 55 na cidade de Propiá em Sergipe. Na ocasião, o prefeito iria inaugurar um busto para Luiz Gonzaga e também convidou Marines para tocar. Ficaram no mesmo hotel em quartos vizinhos. E, conhecendo a fama de Marines, Gonzaga a chamou para jantar com ele. Gonzaga ensinou Marines a dançar xaxado dizendo que estava precisando de uma Rainha do Xaxado.

Após o encontro, Gonzaga prometeu ajudá-los, divulgando o seu trabalho e acenando para canais abertos em rádios e gravadoras. Depois de levá-los para tocar nas rádios Nacional e Tupi, Gonzaga os destitui e os incorpora na sua banda. Em 57, Marinês registra sua voz na música Mane e Babe de Gonzaga. Depois de se apresentarem em Minas Gerais, Helena Gonzaga exige a dissolução do grupo por puro ciúme.

Em 57, ao se apresentarem no programa do Chacrinha da rádio Tupi, o velho guerreiro perguntou apontando para Abdias e para Cacau, quem eram. Marinês, então, respondeu: “É minha gente!” e de prontidão Chacrinha anunciou batizando o grupo: Marines e sua gente!

A partir daí, Marines foi só sucesso! Cantando músicas próprias, com parceiras, Marinês lança mais de 30 discos, e dentre os sucessos estão: Por Debaixo dos Panos, Gosto de Tudo Grande, Pisa na fulô e Peba na Pimenta.

Comemorou 50 anos de carreira com o lançamento do CD Marinês & sua gente: 50 anos de forró, idealizado por Elba Ramalho, onde Marinês canta com outros 13 artistas, dentre eles estão Lenine, Alceu e Dominguinhos.

No dia 14 de maio do ano passado, Marinês que havia se submetido a uma ponte de safena em 2003, sofreu um AVC e morreu no Hospital Português em Recife. Uma grande lacuna fica para os fãs que agora apenas podem ouvir saudosamente as boas músicas dos CDs deixado pela Rainha do Xaxado.

Por Saulo Henrique L. de Medeiros