Os Benefícios Intelectuais de Dormir
O repouso com duração adequada é fundamental para o fortalecimento da memória e para o desempenho intelectual

O PETNews Saúde traz para seus leitores algumas informações sobre os efeitos do sono ou da falta dele. Faz tempo que esses efeitos já são objeto de estudo das pesquisas científicas, contudo as pesquisas atuais, como um estudo da universidade de Lubeck, Alemanha, estão ajudando a estabelecer um cronograma das horas do dia nas quais as pessoas estão mais aptas a aprender. De fato, o processo pelo qual o cérebro humano seleciona e armazena as informações adquiridas durante o dia é no período do sono.

Existe uma substância, a acetilcolina, chave para se compreender como o ser humano capta informações e consegue aprender (armazenar); dentre as suas funções no sistema nervoso, apresenta desempenho importante nas funções cognitivas superiores, tais como a aprendizagem e a memória. As informações captadas ao longo do dia chegam ao hipocampo (ver Figura 1), região do cérebro onde fica a acetilcolina, esta substância é capaz de receber e guardar temporariamente os conhecimentos.

Figura 1: Localização do Hipocampo e do Neocórtex, importantes para a memória e o aprendizado.

Durante o sono a atividade da acetilcolina é praticamente nula, pois o cérebro não está recebendo novas informações. É nesse momento, de inércia da acetilcolina, que os cientistas descobriram que com apenas tal substância ociosa é que os neurônios conseguem formar uma rede por meio da qual as informações migram para outra região do cérebro, o neocórtex (ver Figura 1). Esta região é responsável pelo armazenamento a longo prazo da memória relativa ao aprendizado.

O sono está dividido em cinco ciclos, de forma que cada ciclo do sono é usado pelo cérebro para memorizar determinado tipo de informação. A seguir uma esquematização das fases do sono de acordo com o tipo de memorização realizada pelos ciclos:

Tipo de Memória Armazenada Ciclos do sono Descrição
Motora 1º e 2º Fase em que letras musicais e práticas esportivas são absorvidas pela mente.
Espacial 3º e 4º Fase em que assuntos relacionados à localização espacial são memorizados.
Intelectual REM
(rapid eye movement)
Fase em que ocorrem os sonhos, fundamental à permanência no cérebro do que se aprende na universidade, por exemplo.

Como podemos observar, o quadro apresenta a última fase do sono como a mais importante para a consolidação do aprendizado, principalmente para os conhecimentos adquiridos pelos universitários. Quando o sono dura pouco, consequentemente, o período destinado ao REM também é reduzido. Em pessoas idosas o tempo do sono dedicado à fase de memorização intelectual diminui cerca de 50%, justificando maior dificuldade para aprender novas informações.

O estudo alemão revela que cerca de 90% das pessoas precisa de 8h para completar os cinco ciclos do sono. Ainda segundo a pesquisa, o melhor sono se inicia às 22 horas da noite e se encerra por volta das 6 horas da manhã. Os cientistas de Lubeck identificaram os horários em que estamos mais espertos para receber novas informações e aqueles nos quais ocorre o contrário, para quem dorme 8h (22h ás 6h), apresentados a seguir:

Das 6h às 8h Período ruim para estudo, os neurônios ainda ociosos precisam de pelo menos duas horas após acordarmos para voltar à ativa.
Das 8h às 12h Período de liberação dos hormônios que estimulam nossos neurônios.
Das 13h às 14h Processo de digestão dura cerca de uma hora, provocando lentidão dos neurônios, nesse caso um cochilo nesse período, segundo outras pesquisas, potencializa a memória.
Das 14h às 18h O corpo volta a liberar os hormônios que estimulam o desempenho dos neurônios.
Das 18h às 21h Bom momento para revisão do que se aprendeu durante o dia. Pesquisas mostram que cerca de 12 horas após acordamos os neurônios se dedicam mais ao processamento das informações recebidas durante o dia.
Das 21h às 22h Período de produção dos hormônios do sono. Então está chegando a hora de dormir.

De fato, conseguir adaptar nosso dia-a-dia de trabalho e estudo a um cronograma como o acima exposto não é algo trivial, ainda mais em um curso de ciência da computação, em que o computador parece nosso amigo noturno, pois nossos deadline constantes são cumpridos principalmente nas madrugadas, assim como temos sempre aquela aula às 7h da matina, horário em que estamos ainda em ativação dos neurônios e fechamos a manhã de aulas com aquela prova ou aula ao meio-dia, horário em que a concentração fica comprometida.

O que mais preocupa é que se temos restrições de horários para aprendermos devido às limitações do cérebro e do corpo humano, a complicação é bem maior quando temos períodos de sono bem menores do que 8h. Muita gente chega a não dormir estudando para uma prova no dia seguinte, ficando estafado e sem o menor poder de raciocínio.

Outro dado da pesquisa afirma que uma pessoa que dorme cerca de 8h tem cerca de 11 horas para aquisição de conhecimento de forma apropriada, já para quem dorme menos que isso o tempo destinado a essa aquisição diminui em cerca de 20%.

O que temos que fazer então? Talvez a alternativa seja reduzir nossa carga de trabalho para que possamos viver com qualidade, assim como compreendermos que é melhor dedicar mais tempo para os cinco ciclos do sono se completarem devidamente, pois quando estivermos acordados potencializaremos nosso raciocínio e nossa velocidade na conclusão das atividades diárias.

Por Lorena Lira