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A dificuldade de escolher |
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Como tudo mais na vida, escrever é uma coisa que exige escolhas. É necessário escolher o time que se torce, a hora de falar, com quem casar, o que fazer, o que não fazer. No caso da literatura é preciso escolher a língua, a forma, o tema, o vocabulário, a estilística. No meu caso não tive escolha, pelo menos não todas. Tinha que ser uma crônica. Pensei em enviar um conto qualquer que tivesse escrito, mas ia ficar meio extenso lerem oito páginas de uma história que podia não levar a lugar nenhum, tenho muitos rascunhos, mas pouca coisa completa. Escolher o tema foi metalinguístico, mas não tinha opção de personagens, sobrou um que é inerente ao discurso: o narrador. Outra coisa que é necessário escolher: o discurso. Chego nesse ponto e fico pensando se vale a pena continuar com essa conversa mole ou tentar contar uma historinha como sempre faço. Essas historinhas tentam ter uma metáfora. Talvez nem todo mundo perceba, mas há um motivo por trás de cada história. Talvez escrever tenha a beleza de quando as idéias começam a aparecer. Mas o autor não tem a opção de escolher quando vai ficar inspirado. Por isso, não sei se vale a pena abandonar essas linhas e tentar contar uma historinha que tente defender a ficção científica, primeira idéia, recontar a história de uma música, segunda, contar sobre a galera vendo o apocalipse, terceira opção, ou continuar com essa conversa metalinguística. São idéias diversas que exigem discursos diversos, tentam passar mensagens diferentes, com personagens característicos e particulares. Mas uma opção exige outra, escolher contar uma historinha exige montar um cenário, onde a ação acontece, definir personagens, dar-lhes uma personalidade por mais superficial que seja, e nesse ponto da conversa abandonar todas essas linhas. Desse modo, vão acabar pensando que escritores são algum tipo particular de maluco. Escolhi terminar esse parágrafo. Agora cheguei em outro ponto que não tenho escolha: terminar essa crônica. Ela ficou curta, mas já não sei o que falar, o que me deixa sem opções. Outra coisa fundamental a se escolher numa história é o final. Chegando ao final lembrei outra coisa fundamental: escolher o título. O título não foi uma escolha difícil, estava sem muitas opções, já que a criatividade não bateu. Pelo menos não em mim. Outra coisa importante é escolher a primeira e a última frase de uma história. Pode parecer bobagem, mas é necessário começar com algo que valha a pena ser lembrado, e terminar com algo que seja bom não ser esquecido. Como esse parágrafo está ficando muito grande, estou tendo que escolher se o divido em mais, mas acho que vou simplesmente terminar. É uma opção, mas seria jogar meu conceito fora, então vou usar uma frase mais legal: há sempre uma opção. |
Por Théo Alves |