A ditadura da beleza
Como a obsessão pela boa forma está levando muitas pessoas à beira da morte.

Nos últimos tempos a preocupação excessiva com o corpo tem despertado a atenção do mundo para um problema que é cada vez mais grave e freqüente: a anorexia. A situação tornou-se mais evidente principalmente após a morte da modelo brasileira de 21 anos de idade, Ana Carolina Reston, que morreu no dia 14 de novembro vítima de uma infecção generalizada decorrente da anorexia nervosa, doença na qual 90% dos pacientes é do sexo feminino. Ana Carolina tinha 1,74 m de altura e estava pesando apenas 40kg, ou seja, possuía um Índice de Massa Corporal (IMC) igual a 13,2, quando o ideal é 18,5 (o IMC pode ser calculado, dividindo o peso pela altura ao quadrado).

A busca por um corpo perfeito, igual ao de atrizes e modelos, motiva milhares de adolescentes e mulheres a acreditarem em dietas “milagrosas” que prometem perda de peso em pouco tempo, mas que na verdade podem ser a porta de entrada para problemas muito mais graves do que simplesmente estar fora dos padrões atuais de beleza. Essa busca pode se tornar cada vez mais obsessiva e doentia, levando a mulher a ter uma percepção distorcida de seu próprio corpo. Muitas vezes achando que têm excesso de peso, quando na verdade estão muito magras ou então sabem que são magras, mas acreditam que certas partes do corpo estão “gordas”, como abdômen, coxas e nádegas.

À medida que a doença avança, o paciente começa a utilizar meios pouco usuais para alcançar o objetivo de emagrecer cada vez mais. Passa a exagerar nos exercícios físicos e jejuar, que caracteriza a anorexia nervosa restritiva ou passa a tomar laxante, diurético, come compulsivamente e depois provoca o vômito, caracterizando a anorexia nervosa compulsiva e da bulimia. Todo esse processo é bastante doloroso para o anorético, mas também traz uma sensação de alívio, de estar conseguindo perder peso. Porém geralmente, quanto mais perde peso, mais preocupado fica com a possibilidade de engordar. Pode-se perceber comportamentos estranhos do paciente com relação à comida, como esconder comida em armários, roupas, colecionar receitas, preparar refeições elaboradas para amigos e parentes.

A idade média de aparecimento da doença é aos 17 anos, havendo variações entre os 13 e os 18 anos e pode estar associado a algum fato importante na vida do adolescente como dificuldade em fazer amigos ou alterações da maturação sexual, rejeição familiar. A anorexia traz conseqüências graves para as adolescentes, para aquelas que já menstruaram, pode haver a interrupção do ciclo, e para as que ainda não tiveram sua primeira menstruação, ocorre o adiamento da mesma. São comuns outros problemas como baixo rendimento intelectual, queda de cabelo, vulnerabilidade às infecções, quebra das unhas, amolecimento dos dentes, todo um quadro associado à desnutrição.

É nessa hora que a doença pode se tornar fatal se não houver a atenção da família, dos amigos e da própria paciente. O índice de mortalidade em função direta da doença é estimado entre 6 e 10%, em conseqüência das alterações orgânicas e metabólicas secundárias à desnutrição, ou de inanição e até mesmo suicídio. A recusa da família em aceitar a doença, por acreditar que a anorexia é um capricho, uma teimosia ou algo que vai passar, agrava ainda mais a situação, ou seja, a falta de informações adequadas também pode causar a morte.

O tratamento é uma grande dificuldade, principalmente porque o anorético não admite que esteja doente e desconfia dos médicos, por achar que eles têm o único objetivo de fazê-lo engordar. Dependendo das condições, é preciso internar o paciente para que ele se restabeleça em ambiente hospitalar, além do tratamento psiquiátrico. A família deve ser informada da gravidade da situação e entender que a cura não será fácil. Mesmo após a melhora, faz-se necessário um acompanhamento, pois o índice de recaídas é superior a 25%.

O pensamento de que ser belo é ser magro precisa ser mudado antes que a situação se torne ainda mais grave e perturbadora. A ajuda da mídia é fundamental para desmistificar o culto excessivo à beleza, já que foi ela uma das responsáveis pela situação que está cada vez mais evidente. Afinal, magreza não é fundamental, mas saúde sim.

Por Mariana Romão do Nascimento