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Vinte Anos sem Luiz Gonzaga, o Rei do Baião |
"Quando oiei a terra ardendo com a fogueira de São João, eu perguntei, a Deus do céu, ai por que tamanha judiação..." |
No dia 02 deste mês, completou-se vinte anos desde o falecimento de Luiz Gonzaga na cidade de Recife. O Rei do Baião, como ficou conhecido, foi um dos maiores ícones da música popular brasileira, principal responsável pela divulgação da música nordestina para o resto do país. Nascido em 13 de dezembro de 1912, na fazenda Caiçara, em Exu Pernambuco, filho do lavrador e sanfoneiro Januário José dos Santos e de Ana Batista de Jesus (mãe Santana), ele sempre foi apaixonado pela música regional e desde pequeno já tirava as primeiras notas no fole de oito baixos do seu pai, ajudando-o em festas religiosas e forrós, normalmente tocando zabumba. ![]() Aos dezessete anos, apaixonou-se por Nazarena, a nazinha, filha de Raimundo Delegado, homem rico da cidade. O namoro foi impedido pela família dela e, decepcionado, Luiz Gonsaga fugiu para o Crato no Ceará e depois para Fortaleza, alistando-se como voluntário no 23º Batalhão de Caçadores em 1930. Pelo exército viajou todo o Brasil e, após 10 anos, teve baixa e resolveu ficar no Rio de Janeiro, onde decidiu, com uma sanfona branca recém comprada, tocar em bares, restaurantes e cabarés da Lapa. Fez músicas por encomenda, boleros, valsas e tangos. Após perceber a carência dos imigrantes nordestinos por sua música regional, começou a tocar de forma excelente xaxados, baiões, cocos e chamegos. O reconhecimento de seu trabalho teve início quando participou do programa de calouros de Ary Barroso, um temível apresentador, com o chamego "Vira e Mexe", sendo merecidamente elogiado, recebendo a nota máxima. A partir daí, passou a freqüentar outros programas de rádio. Em 1945, conheceu o seu futuro grande parceiro, o advogado Humberto Cavalcanti Teixeira, que compôs com ele grandes sucessos como: "Lá no meu pé de Serra", "Respeita Januário" e "Asa Branca". ![]() Também em 1945, nasceu seu filho Luiz Gonzaga Nascimento Júnior, o Gonzaguinha, filho da bailarina Odatéia Guedes dos Santos, com quem viveu durante cinco anos. Em 1948, casou-se com a contadora pernambucana Helena das Neves Cavalcanti. Em 1950, recebeu o apelido que o intitula até hoje, Rei do Baião e foi também neste período que gravou "Assum Preto", "Qui nem Jiló" e "Paraíba", música gravada por uma cantora japonesa, Keiko Ikuta. Suas músicas correram o mundo, "Asa Branca" teve interpretações em Israel, na Itália, Estados Unidos e Japão. Luiz Gonzaga ganhou diversos prêmios. Em 1976, recebeu o título de cidadão cearense, em 77 entrou na versão brasileira da Enciclopédia Universal Britânica, em 78 cantou para o Papa João Paulo II, e, em 81, ganhou dois discos de ouro. Alguns livros foram escritos contando sua história. Em 1986, José de Jesus Ferreira lança "Luiz Gonzaga O Rei Do Baião: Sua Vida, Seus Amigos, E Suas Canções". E, em 1988, Mundicarmo Maria Rocha Ferreti lança o livro "Baião De Dois: Zé Dantas E Luiz Gonzaga". Em 1988, separou-se de Helena e passou a morar com Edelzuíta Rabelo, que conheceu em 1975. O último show feito por ele antes de morrer foi no dia 06 de junho de 1989 no Teatro Guararapes do Centro de Convenções de Recife, onde recebeu homenagens de vários artistas do país. Antes de finalizar o show, o Rei do Baião proferiu estas palavras: "Quero ser lembrado como o sanfoneiro que amou e cantou muito seu povo, o sertão; que cantou as aves, os animais, os padres, os cangaceiros, os retirantes, os valentes, os covardes, o amor." e assim o é até hoje. |
Por Priscilla Vieira (pvieira@dsc.ufcg.edu.br) |