Com dor de cabeça? Durma um pouco e tome um analgésico. Certo?
Estudos demonstram que dormir e ingerir analgésicos, que possuem efeito sintomático imediato, são fatores de risco para o desenvolvimento de dores de cabeça.
A cefaléia é um mal que acomete grande parte da população.

As cefaléias, nome científico das dores de cabeça, podem ser primárias ou secundárias. As cefaléias primárias são aquelas causadas por distúrbios bioquímicos do próprio cérebro que levam a dor por mal funcionamento de neurotransmissores e/ou de seus receptores. Portanto, as dores primárias são elas próprias, a doença e o sintoma. As cefaléias secundárias, causadas por problemas em quaisquer regiões do corpo, podem ter inúmeras causas, como por exemplo, um tumor cerebral ou um simples resfriado.

A ocorrência mais comum é de cefaléias primárias , em especial as cefaléias tensionais e a enxaqueca. A cefaléia tensional é provocada devido à tensão ou contração exagerada, anormal e mantida de grupos musculares dos ombros, pescoço, couro cabeludo e até a face. Ela se caracteriza pela sensação de pressão ou peso, muitas vezes simulando uma faixa ou capacete apertado em volta da cabeça. Já a enxaqueca, se caracteriza por dor intensa de caráter periódico e acompanhada de outros sintomas como náusea.

Estas cefaléias são as principais responsáveis pela auto-medicação com ingestão de analgésicos e também do ato de “tirar uma soneca” para aliviar a dor de cabeça. O problema é que estas medidas de fato demonstram resultado imediato. Entretanto, elas mesmas, quando administradas com freqüência, são propiciadoras do desenvolvimento de dores de cabeça cada vez mais fortes.

No sistema nervoso central (SNC) existem células que produzem substâncias que combatem a dor, chamadas de endorfina. O uso repetido de analgésicos atrofia o sistema produtor dessas substâncias e o paciente é obrigado a aumentar as doses de analgésicos porque a dor de cabeça se torna cada vez mais intensa. Assim, o uso regular e frequente de analgésicos transforma ao longo do tempo a dor que não era diária em uma dor de cabeça que se manifesta todos os dias. Estudos revelam que basta usar analgésicos mais de duas vezes por semana, por mais de três meses seguidas, que isto já pode ocorrer.

Quanto à pratica de dormir para aliviar a crise de cefaléia, pesquisadores da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos, constataram que existe uma relação bidirecional entre dores de cabeça, estresse e problemas do sono. Assim, pessoas que adotam esta estratégia tendem a desenvolver problemas para manter o sono reparador por tempo adequado, como a insônia por exemplo, e isto propicia o aparecimento de dores de cabeça de intensidade gradativa. Assim, estas pessoas mantêm este ciclo: a insônia -> propicia a dor de cabeça -> leva o paciente a dormir um pouco para passar a dor (soneca) -> como conseqüência o paciente desenvolve a insônia, realimentando o problema.

Portanto, segundo os pesquisadores, o sono rápido e a ingestão de analgésicos devem ser utilizados apenas quando as dores de cabeça aparecem esporadicamente. Pois, é importante que o paciente crônico desenvolva seus próprios mecanismos de defesa contra as dores de cabeça, fazendo com que seu organismo produza mais endorfina e se previna quanto ao aparecimento de novas crises.

Neurologista afirmam que a ingestão frequente de analgésicos provoca a incidência diária de crises de cefaléia.

A suspensão dos analgésicos em um paciente portador de enxaqueca, por exemplo, causa um estresse profundo ao organismo levando-o ao aumento da produção de endorfina, e com o nível de endorfina maior no organismo, este se torna imune a futuras crises de enxaqueca, segundo o neurocirurgião, pioneiro no estudo das cefaléias no Brasil, o Dr. Edgard Rafaelli Jr.

Por Jaquelyne Cruz.
(jcruz@dsc.ufcg.edu.br)