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O Brasil no espaço |
O ano de 2006 entra pra história com o primeiro cosmonauta brasileiro, doses de marketing e ufanismos exaltados. |
O Tenente-Coronel Marcos Pontes, desde dezembro de 2000, quando foi declarado astronauta pela NASA, esperou por sua viagem inaugural. A primeira chance foi em 2001, quando ia participar da construção da ISS, mas foi adiada para 2003 devido a problemas orçamentários. Quando o ano esperado chegou, mais uma vez, a viagem ficava mais distante, pois devido ao acidente no ônibus espacial Columbia, todos os vôos foram suspensos por tempo indeterminado. Assim, a tão aguardada chance finalmente chegaria quando o presidente Lula, em visita oficial à Rússia, em outubro do ano passado, fez um acordo de cooperação no qual o Brasil pagaria dez milhões de dólares para o envio do nosso cosmonauta à ISS. Nas vezes anteriores, o patrocínio não foi necessário. A expectativa para o embarque na nave Soyuz TMA-8 foi acompanhada detalhadamente pelos telespectadores, com cenas, reportagens sobre a vida do cosmonauta no estrangeiro, onde morava, o que comia, como era a rotina, o quanto ele era querido lá fora, até comparações com o Yuri Gagarin. No momento do acoplamento da nave à ISS, em plena transmissão do treino oficial para o GP da Austrália de Fórmula 1, o treino passa a ser praticamente ignorado, e se passa a transmitir, com narração de Cléber Machado, minuciosamente, cada parte do acoplamento da nave. Marcos Pontes já entra na ISS com a bandeira nacional em punho, assim como nas entrevistas exclusivas para o Jornal Nacional. É uma entrevista com o presidente, e outra como um verdadeiro “arquivo confidencial” com a presença da família do nosso astronauta. Tudo muito emocionante, com homenagens a Santos Dummont com direito à caracterização. O brasileiro ficou oito dias fazendo pesquisas envolvendo nanotecnologia, biotecnologia, controles térmicos de equipamentos espaciais e agricultura na micro-gravidade. Os outros tripulantes da nave do brasileiro ainda passarão mais 6 meses no espaço pesquisando outras coisas... Imagem do momento do acoplamento da nave à ISS O programa espacial brasileiro? Bem, o Brasil ainda não conseguiu mandar nada para o espaço, nem um foguete não-tripulado. As duas únicas tentativas explodiram antes de sair da órbita da Terra, uma delas, inclusive, nem saiu do chão. E a próxima viagem de um brasileiro ao espaço vai ser difícil, pois a quantia paga era só para Marcos viajar. Ficou claro o marketing envolvendo a viagem do Marcos Pontes à ISS, uma viagem de alto custo para participar de um programa espacial do qual participam nações ricas como EUA, Rússia, França, Alemanha, China e Japão, mais um patrocínio virtualmente populista de um Governo conturbado, com um programa espacial nacional tímido. Contudo, é louvável a dificuldade de conseguir ser um astronauta, não é todo mundo que se forma na Academia da Força Aérea (AFA), no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), é selecionado para ser astronauta pela NASA e se forma com excelência. Infelizmente, as condições que proporcionaram a viagem e a maneira como foi realizada não são exatamente louváveis. Dez milhões de dólares poderiam ser melhor utilizados para o progresso da ciência no Brasil, patrocinando pesquisas, por exemplo. Às vezes, com o resultado de uma só pesquisa esse custo inicial poderia ser coberto. O que se pode levar de positivo com isso tudo? Talvez o marketing da viagem sirva como incentivo ao Governo para olhar com mais seriedade o programa espacial brasileiro ou apenas para reviver que o sonho de criança de ser um astronauta é possível, afinal, ela é brasileira e não desiste nunca! |
Por
Clerton Ribeiro de Araujo Filho |